Difícil estudar hoje em dia... (12 de março de 1959)

Recordamo-nos de que quando ainda garotos e cursávamos o grupo escolar, eram difíceis os estudos médios e superiores. Eram difíceis, porque não eram todas as cidades interioranas que dispunham de estabelecimentos estudantís além daqueles do curso primário. Mesmo os ciclos ginasial, comercial e normal, dificilmente eram encontrados em cidades consideradas adiantadas na ocasião.

Temos muitos professores normalistas e muitos contadores (na ocasião guarda-livros), que se locomoveram para a Capital ou grandes centros, onde se formaram. Naquele tempo, o concluinte do curso ginasial, éra considerado erroneamente como “bacharel”.

Pouca gente conseguiu estudar na ocasião, em virtude dos motivos explicados.

Hoje, não; hoje as coisas são diferentes. Nos últimos vinte anos, progredimos extraordinariamente nesse setor. Qualquer cidade da “hinterlandia”, principalmente no Estado de São Paulo, tem seu ginásio (quasi sempre oficial), tem a sua escola de comércio (quasi sempre particular). Apesar dos clamores, o ensino primário foi desdobradíssimo e até os mais longínquos rincões da zona rural, possuem hoje uma escola primária, seja municipal, seja estadual. E ainda faltam estabelecimentos desse gênero, ainda estando insuficientes em certos casos, o número de vagas em disponibilidade.

Acontece que, se por um lado progredimos admiravelmente nesse campo, por outro, êsse progresso nos acarretou dificuldades sem conta, em face do custo elevado dos estudos, uniformes, livros e cadernos. Hoje em dia, se não fôra os cursos noturnos, cinquenta por cento dos atuais estudantes, contentar-se-iam obrigatoriamente apenas com o curso primário.

Pouca são as famílias que podem superar o problema da educação dos filhos, tão elevado é o custo do ensino hoje em nosso país.

Vejamos, por exemplo, para não nos aprofundar muito, apenas o curso primário, mesmo sendo gratuito: material escolar de uma criança do terceiro ou quarto ano, só de início, alcança, em certos casos (como ficou provado há poucos dias) até a soma astronômica de 600 cruzeiros. Uniformes escolares do mesmo ciclo, chegaram a custar muito conto de réis (ou mais).

E o ginásio? E o científico (ou clássico)? E os vestibulares? E os cursos superiores?

Por aí se vê, claramente, que é difícil estudar hoje em dia. Principalmente para o filho de pobre e muito principalmente para a família de muitos filhos.

Nos estabelecimentos pagos, as mensalidades sobre quasi sempre e mesmo assim, segundo sabemos, muitos professores deixam de ser convenientemente remunerados. E não se póde pagar o mesmo de uma escola particular, sem cobrar a mensalidade do estudante.

Qual será a solução do problema, então?

É difícil dizer-se, pois a questão parece insolúvel, sem caminho certo. Todos apresentam as justificativas: o fabricante ou o revendedor de livros ou cadernos, o sapateiro, o alfaiate, enfim os que fornecem o material em geral para os estudantes. A vida está cara, tudo subiu de preço. Porisso, o ensino, mesmo o primário e mesmo o gratuito, torna-se caríssimo hoje em dia.

Só duas coisas, pensamos, poderiam atenuar um pouco a situação em téla: arcar o governo com maiores ônus, em prol do ensino oficial (embóra muitos “técnicos do asfalto” combatam a descentralização do ensino) e monopolizar a industrialização do material escolar, isentando-o de impostos e taxas, para ser vendido aos que estudam, a preço de custo de produção, por órgão exclusivo e honesto.

Ou será que existem outras fórmulas, que venham de encontro a necessidade inadiável de tornar mais accessível o ensino aos póbres?

Extraído do Correio de Marília de 12 de março de 1959

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