Fábricas de papel moeda (10 de março de 1959)

Existem acontecimentos, mesmo por parte das maiores autoridades do país, que dão margem a comentários por vezes de escárnio. São consequências das próprias contingências momentâneas, resultados suplantam os pontos de vista colimados, ou que estendem raízes que avançam em sentido contrário ao esperado.

Daí a margem para “gozações”, como se diz vulgarmente.

É o caso, agora, da indústria de papél moéda no Brasil, manufatura que se apregoa, terão o caráter de uma das mais importantes do mundo. E, segundo se afirma, não servirá a nenhum país estrangeiro, pois sua produção será exclusivamente para nós próprios!

Óra, u’a nação que monta uma fábrica de dinheiro exclusivamente para uso próprio, não significa que seja um motivo de progresso, conforme entendem muitos. A sua repercussão tem lá no fundo, resquícios de pejorativíssimo, sem sombra de dúvidas. Representa que, antes de seu funcionamento, a encomenda de papél moéda do Brasil, a outros países estava sendo algo fabulosa e algo dispendiosa, a ponto do Govêrno interessar-se por uma providência dêsse naipe.

Daí a razão dos conceitos glosados acêrca do assunto.

Se o Brasil vai tornar-se um dos maiores fabricantes de papél moéda do mundo, sómente para seu consumo interno, é claro e suscinto que nosso país se não é, pretende tornar-se o maior consumidor de dinheiro de todo o mundo. É a própria lei do consumo forçando a produção.

Talvez suceda com a fabricação do papél moéda, o mesmo que aconteceu no passado, com o lança perfume. O Brasil importava cifras tão gigantescas dêsse produto da Suíça, produzido pela Química Rhodia, que os nacionais acharam mais interessante e oportuno transferir as fábricas de lança perfume para nosso país!

Nós não entendemos bem do assunto, mas mesmo assim, achamos que o Presidente da República está certo. Está certo, uma vez que nunca nosso dinheiro valeu tão pouco como agora. E, com uma fábrica aqui produzindo dia e noite, conforme se propala, mesmo que o dinheiro pouco ou nada valha, teremos quantias suficientes para ir comprando tudo o que for necessário. Mesmo que sejam necessárias uma, duas ou três notinhas de mil cruzeiros, para comprar-se um quilo de feijão e meio quilo de manteiga!

O negócio deve ser tão interessante e sua função dentro da economia privada do país deve ser tão importante para os brasileiros, que até uma grande companhia inglesa está agora, conforme noticia a imprensa, encontra-se interessada em montar aqui, uma de suas filiais de fabricação de papél moéda!

Que é que os leitores acham sôbre isso?

Extraído do Correio de Marília de 10 de março de 1959

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