Marcial Lago e as Casas Populares (25 de março de 1959)

Em entrevista concedida a um repórter do “Diário de São Paulo”, o sr. Marcial Lago, presidente da Fundação da Casa Popular, dentre outras afirmativas, lançou um repto aos prefeitos municipais de todo o país. O desafio referido, diz respeito ao seu apêlo anterior, em que afiançara que construiria núcleos de residências populares em todos os municípios brasileiros, desde que êstes oferecessem os respectivos terrenos, dotados de água e luz.

Em certo trecho de sua entrevista, assim se expressou o sr. Marcial Lago:

- “Em 1956 lancei, através da imprensa e do rádio, aos prefeitos de todo o Brasil, um repto no sentido de que qualquer deles me apresentasse, em seu respectivo Município, terreno com água e luz, para que neles a Fundação da Casa Popular fizesse erguer núcleos residenciais. O prefeito de Santos, na época, nem sequer “deu bola” para meu repto. No entanto, todos aqueles chefes de Executivos Municipais que levaram a sério aquilo que afirmei, receberam imediatamente os benefícios da Fundação. No Estado de São Paulo, posso citar, assim de memória, os Municípios de Lins, Vera Cruz e São José do Rio Pardo. Ao todo atendi a Municípios de 19 Estados e não é minha culpa se os prefeitos do Estado de Minas se interessaram mais pelo problema do que os de outros Estados”.

- “Naquela época – prosseguiu o sr. Marcial Lago – a Fundação da Casa Popular possuía para pronto emprego, uma verba de 800 milhões de cruzeiros. Sei que o atual prefeito de Santos já adquiriu o terreno necessário à construção do núcleo de casas populares no Município. No entanto, há seis meses atrás, quando lá estive, o citado terreno não contava ainda com os benefícios de água e luz, sem o que a Fundação não constrói”.

No caso de Santos, nada sabemos e nada temos a ver “com o peixe”. No caso de Marília, que o que nos interessa, de pronto e de perto, entendemos que o repto deve ser aceito pelo sr. Prefeito Municipal, que está em condições de esclarecer e lembrar ao reptista, que no que tange à Marília, a F. C. P. não cumpriu o prometido.

Em 1954, aqui esteve a deputada Ivete Vargas, em campanha eleitoral. E na ocasião, em praça pública, prometeu-nos as casas populares, garantindo ao público de nossa cidade que seria ela a advogada direta de nosso povo, junto à Fundação da Casa Popular, intercedendo pessoal e diretamente junto ao seu presidente Marcial Lago.

A Prefeitura de Marília acreditou nas promessas (e na conversa) da deputada e principio a agir. Conseguiu, por doação, o respectivo terreno de propriedade dos Irmãos Ohara. Levou à gleba referida, os benefícios da água e da luz. Estabeleceu o necessário plano topográfico de demarcação de vias. Procedeu, enfim, ao cumprimento dos quesitos exigidos para o fim.

A Câmara Municipal tomou partido, vindo de encontro às providências do sr. Prefeito e fazendo também seus trabalhos no sentido. Nós, igualmente, divulgamos o fato e reiteradas vezes lançamos nosso apêlo (desde 1.954) para a medida se consumasse na parte da responsabilidade da F. C. P..

O tempo passou e nada foi feito. Telegramas foram trocados, tendo inclusive algumas pessoas mandado transcrever em nosso jornal, afirmativas de providências do sr. Marcial Lago a respeito das casas populares de Marília.

Ivetinha voltou a Marília 4 anos depois, sem ter cumprido a promessa.

O sr. Marcial Lago, no que tange a Marília, não tem nenhuma razão para lançar reptos indistintamente “aos prefeitos de todo o Brasil”. Nós é que lançamos agora o repto ao sr. Marcial Lago: Se é da maneira que S. S. afirmou na entrevista (publicada pelo “Diário de São Paulo em 18-3-59), qual a razão que Marília ficou “de fóra” dêsse plano? Existe a total verdade nessa afirmativa?

Para nós, tal declaração não apresenta a verdade completa. Para nós, repetimos, marilienses.

Extraído do Correio de Marília de 25 de março de 1959

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