Um problema gravíssimo (5 de março de 1959)

Aqueles que, por quaisquer motivos, tenham contacto constante com a Polícia e Juizado de Menores em Marília, ficarão por certo alarmados, em face ao índice acentuadíssimo de seduções de menores na cidade.

Raros são os dias em que as autoridades não se vêm obrigados a manusear ou instaurar processos desse quilate aqui em Marília.

São casos sem conta. Seguidamente as autoridades tomam conhecimento de motivos de seduções de meninas de até 13 ou 14 anos. As histórias originárias desses fatos, são quasi sempre as mesmas, embora com pequenas variações, mas resumem-se numa única e principal causa: negligência e abandono dos pais ou responsáveis.

Várias dezenas de menores foram seduzidas em Marília nos últimos tempos, colocando-nos, nesse setor, numa condição lastimável. Incontáveis menores, em consequência desses fatos, passaram a integrar o gigantesco exército das mulheres infelizes. Inumeráveis famílias foram tisnadas em sua honorabilidade, com o aparecimento de seduções de menores em seu seio e a maioria, senão a totalidade dessas desditosas meninas, dificilmente completará a função precípua da própria natureza, como donas de casa e mães de família dos dias de amanhã.

O problema póde ser social, póde ser moral, póde ser religioso. Seus estudos são complexos, as medidas de segurança e estancamento desse estado de coisas são múltiplas, variadas e difíceis de ser adotadas, escapando seus reparos à competência das próprias autoridades responsáveis, uma vez que a culpa, antes e acima de tudo, cabe aos pais e responsáveis dessas mesmas menores.

Os pais e responsáveis, que soltam suas filhas pelas ruas, concedendo-lhes todas as liberdades de movimentação e sem limites de horários, são os principais co-participantes dessa anomalia, que em Marília assume proporções tão assustadoras e desagradáveis.

Claro é que as autoridades à cuja responsabilidade estão afétos os casos citados, procuram, dentro da lógica e do próprio direito, atenuar ou consertar as situações, da maneira mais condizente possível. Esses “reparos”, entretanto, nem sempre contornam a situação, porque existem casos verdadeiramente “inconsertáveis”.

Muitos casos que aparecem na Polícia e no Juizado de Menores, a êsse respeito, não são na verdade, “casos de polícia”. São casos únicos dos próprios pais de família ou responsáveis pelas menores infelicitadas.

Devem portanto, os responsáveis e pais das mocinhas marilienses, especialmente as menores consideradas mais ingênuas, freiar mais e melhor as movimentações das mesmas, em primeiro lugar. Se isto não suceder, continuaremos a presenciar fatos verdadeiramente incríveis, no registro de ocorrências policiais e de menores em nossa cidade.

Todos os fatos oriundos dos diversos processos a respeito, prendem-se ao princípio da completa soltura soltura das meninas atingidas pelo fato em fóco; ou estudam à noite e “enforcam” as aulas para namorar, sem que os pais se preocupem em observar a frequência das escolas; ou andam livremente com “amiguinhas” mal selecionadas; ou viajam por onde querem, também com “amiguinhas”; algumas tem a liberdade de dormir fóra de casa diversas ocasiões, com a concordância plena dos pais ou responsáveis, que ignoram a verdade, aceitando as desculpas maliciosas das meninas, que alegam terem pousado “em casa de u’a amiga”.

Como se vê, descuido completo, total, inquestionável dos responsáveis. Estes são os co-participantes involuntários dos casos de seduções das próprias filhas, cuja cifra é verdadeiramente assustadora entre nós.

Extraído do Correio de Marília de 5 de março de 1959

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