Balela oficial (23 de abril de 1959)

É o que se póde dizer da COFAP e suas “filhas” COAPS e COMAPS. Uma balela oficial.

Agora a COFAP mudou de nome. Passará a chamar-se Instituto Nacional de Abastecimento. Na intimidade, INA.

Muito se falou sôbre a extinção desse organismo, uma vez que o mesmo não vinha cumprindo fielmente as suas precípuas finalidades, no concernente ao arbitramento justo, fiscalização eficiente e orientação sábia, que redundassem diretamente em pról dos interesses do povo, conforme seria de esperar e de acôrdo com a própria declarada origem do mencionado órgão.

A extinção não e nem poderia mesmo vir, porque se teria criado no Brasil, um problema de aspecto mais delicado e de solução mais difícil para o comodismo de algumas pessoas, do que mesmo as questões urgentes de interesse de toda uma população. É que existem dezenas de funcionários bem remunerados integrando o famigerado núcleo, hoje considerados servidores públicos de autarquia (embora não o sejam) e que não poderiam, assim, sem mais e nem menos, ganhar o olho da rua! Então se remedeia a situação, conforme já fôra feito no passado, quando da mudança do nome original para COFAP; isto é, muda-se o rótulo, permanecendo inalterável o conteúdo.

Tais organismos jamais cumpriram as suas finalidades, pois ao invés de se tornarem defensores do povo, defenderam de fato (e de direito, por que, não?) os interesses e reivindicações dos potentados e intermediários. Pelo menos, nós, o zé povinho, é assim que vemos esses organismos. As reivindicações dos grandes (que é a minoria), são prontamente atendidas pela COFAP e suas “filhinhas” (idolatradas, salve salve!) em detrimento dos pequenos (que representam a maioria). Isso ninguém poderá contestar.

Assim, pois, a COFAP nada mais representou para os interesses do povo, especialmente o interiorano, que uma autêntica baleia oficial, disvirtuada desde o início de suas patrióticas finalidades, finalidades essas que se constituíram numa esperança frustrada e decepcionante. A julgar pelos exemplos já demonstrados pela COFAP e suas “filhinhas”, é de justificar-se sem sombra de dúvidas que o zé povinho continue a descrer e duvidar de que as atenções do INA possam, de fato, encontrar a verdadeira finalidade, na defesa da intransigente dos interesses populares.

De qualquer maneira, nosso comentário nada apresenta de pejorativo; pelo contrário, consubstancia votos, para que o INA não venha a seguir as mesmas pegadas da sua antecessora, a COFAP, corpo que, nem de leve, em nosso entender, foi capaz de suprir a lacuna que justificou a sua criação.

Se a COFAP não pretendeu dar-nos esses exemplos e motivos para tal crítica, pelo menos assim agiu e isso ninguém poderá negá-lo. Muita gente ganhando muito dinheiro e pouco trabalho efetivo em pról dos interesses do povo, que é a maioria e que foi o mais diretamente prejudicado pela inércia de tal organismo, organismo que a imprensa carioca e a paulistana denominou ironicamente de “Mãe dos Tubarões”.

Nossos votos, portanto, para que o INA possa vêr-se imunes das “influências” exteriores (ou interiores) e cumprir a real finalidade de seu surgimento, no contenda dos interesses do próprio povo, sem que venha a constituir-se, como já aconteceu no passado, em inequívoca e lamentável (condenável, sobretudo) balela oficial.

Extraído do Correio de Marília de 23 de abril de 1959

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