Mentiras de 1º de abril (2 de abril de 1959)

Estranharam alguns leitores, nosso proceder de ontem, com as “Boas Notícias” de 1º de abril, o chamado “dia das mentiras”. Alguns se divertiram com o fato, achando graças e oportuna a lembrança que tivermos, ao encher o espaço que nos destina diariamente a direção do “Correio”. Outros, entretanto, não gostaram da brincadeira e houve até um leitor que nos censurou “de corpo presente”, dizendo-nos que nos secção diária conseguiu firmar-se no conceito popular como um rosário de assuntos sérios e sempre oportunos, incompatível, portanto, com uma apreciação brincalhona sob qualquer aspecto.

Pode ter ou não razão êsse nosso amigo. De qualquer maneira, nos envaideceu o conceito que o mesmo tem acêrca de nossas intenções e preocupações quando rabiscamos nossas idéias diárias. Mas nada existe de mal, nem mesmo disvirtuamente de desideratos, nu’a mentirazinha aplicada justo num dia próprio. Existem tantos políticos, tantos administradores, tantos comerciantes, tantos industriais, jogadores de futebol e mesmo escritores e jornalistas que “mentem” bastante, porque não poderíamos nós também, humildes mortais, “lascar” um embuste no dia 1º de abril?

A vida está difícil, caríssima, quasi caótica. Tudo é desprazer e dificuldades, amarguras e apêrtos. É bom, pelo menos uma vez por ano, a gente esquecer por momentos as preocupações oriundas do próprio “modus vivendu” que usufruímos compulsoriamente, para inventar qualquer coisa, para escrever algo diferente, fazendo uma brincadeira.

Se êsse nosso amigo entendeu, convém também que esclareçamos aquí, que outros tantos nos procuraram e aplaudiram a brincadeira. Como se vê, opiniões divididas, pontos de vista diversos.

Está certo êsse aspecto. Imaginem os leitores, que se tudo o que fosse falado ou escrito, obtivesse, de pronto, o dobrar de espinhas e o dizer de amém, como não seria “sem graça” a vida. A duplicidade de pontos de vista é necessária e naturalmente lógica. Muitos de nossos modestos e despretenciosos escritos, encontram opiniões divergentes, quasi diariamente. Há os que concordam com nosso ponto de vista e há os que discordam daquilo que pensamos ou escrevemos. Se existe tal estado de coisas quando procuramos escrever sôbre assuntos sérios, abordando razoes que se nos pareçam oportunas e preocupados em que tais questões se prendam, direta ou indiretamente, de preferência, sôbre Marília e seu povo, por que não poderá haver dualidade de interpretações, justo no dia em que escrevemos as mentiras de 1º de abril?

De tudo isso, uma coisa temos a certeza absoluta: Temos, graças a Deus, um apreciável número de leitores; e para quem rabisca num órgão de imprensa, principalmente da “histerlândia”, o saber que seus escritos são lidos e comentados, significa um motivo de satisfação, um fato de incentivo, uma alavanca que propulsiona as intenções do aperfeiçoamento, de maior precisão e oportunidade possíveis.

Que não se agaste nosso leitor pelo fato de termos “saído do sério” em nosso escrever anterior. Que saiba também êsse amigo, que de todas as mentiras que foram pregadas na cidade no dia de ontem, a nossa foi uma das mais inocentes, porque não causou mal a ninguém e porque tivemos o cuidado de encerrarmos a conversa, identificamos as brincadeiras. Teríamos mesmo que fazer isso, pois em nosso escrito fizemos referências à diversas pessoas da cidade. O amigo já se inteirou como fizeram outras pessoas no dia 1º de abril em Marília?

Extraído do Correio de Marília de 2 de abril de 1959

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