Isso é “técnica moderna” (4 de junho de 1959)

O progresso dos últimos anos, o propalado dinamismo do século XX, carrega consigo uma válvula de escape perfeitamente oposto ao sistema antigo. Em vários setores das atividades dos homens, êsse mesmo progresso trouxe alguns processos com os quais acabamos por nos habituar, mas que não deixam de atenuar dentro de suas “técnicas modernas”, um verdadeiro espírito de safadeza de muita gente.

Difícil seria o citar-se a infinidade de processos na condição que óra referimos. Alguns apresentam até aspectos dos mais graves, embora corriqueiros e aparentemente “normais”; outros denotam a evidência de uma incontestável preocupação de lucros comerciais, onde tudo se faz e tudo se procura fazer, para objetivar-se lucros pelo meio e mais fácil e pela condição mais rápida.

Alimentos ou não, muitas coisas se apresentam com essas características, despercebidas pala massa. Vejamos o caso das bananas, por exemplo: O “processo moderno” de amadurecimento dêsse produto, tem alguma coisa de criminoso; ninguém se dá ao trabalho de esperar que as referidas frutas atinjam “o ponto” de acordo com a própria lei da natureza. A corrida dos interesses comerciais e a malícia do comércio “moderno”, atingiu o nosso homem rural, o trabalhador comum. Em vinte e quatro horas, qualquer pessoa é capaz de “amadurecer” toneladas de bananas, por mais verdes e impróprias para o consumo que possam estar. Basta possuir uma estufa para o aquecimento geral e um pouco de carbureto para forçar o amadurecimento da casca do produto. Não somos de medicina e nada disto entendemos; apenas pensamos que tudo o que é feito em contra posição da bela natureza tem lá o seu lado de prejudicial. No caso, para a saúde, é logico.

Em consequência, as bananas perderam aquele sabor tradicional e característicamente delicioso, aquela aparência de amadurecimento normal e as pintinhas pretas da casca; e o que é mais importante, o gosto verdadeiramente doce e agradável. Hoje o paladar das bananas “amadurecidas” pelo sistema de “na marra”, perecem mais u’a massa de cortiça e estopa, numa comparação grosseira.

Em tudo isso, se vislumbra a corrida da pequena espera no sentido da preocupação comercial, no cuidado inequívoco de “fazer dinheiro”. E, neste sentido, muita coisa mais existe hoje em dia, em virtude da “técnica moderna” que estamos referindo. Diversos produtos são lançados no mercado, com aspcetos e paladares realmente tentadores; após terem ganho o prestígio e a preferência pública, modificam-se gradativamente, de maneiras que o público consumidor pouco ou nada venha a perceber. Essas modificações, não há dúvidas, devem-se a alteração dos próprios produtos, diminuindo o custo da produção, mantendo a cotação das vendas, e, em consequência, significando maior de margem lucros para os manufaturadores. Temos visto isso em qualidades de cigarros, de sabonetes e de outras coisas.

Daí, o afirmar-se que todo o progresso de nossos dias, tem também o seu lado de errado com aparência de certo; alguma coisa assim de criminoso, porque é, de qualquer maneira, um embuste generalizado.

Acontece que a gente vai se habituando a tudo e com tudo se conformando, porque não ha outro solução; e não ha outra solução, porque nem sempre e nem em todos os setores das atividades humanas, existe aquele apanágio da decência que se chama lealdade.

De qualquer maneira, resta-nos o consôlo de que vivemos no século XX e desfrutamos da “técnica moderna"

Extraído do Correio de Marília de 4 de junho de 1959

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