Pontos de vista divergentes (13 de junho de 1959)

Positivamente, o mundo “não teria graça”, se os homens todos, entre sí, pensassem de idêntica maneira e concordassem mutuamente em todos os pontos e sôbre todos os sentidos.

É mesmo necessária a divergência de pontos de vista entre os homens, para que do acompanhamento dessas duplas ou múltiplas idéias, uma parte (que deve representar a maioria), possa melhor concluir sôbre um aspecto, uma idéia ou uma providência. Faz isso parte da própria natureza humana e, no caso de nossa gente, tem as suas razões de maior e melhor acentuação, mercê do democrático clima em que vivemos.

Sucedem, entretanto, com frequência aliás, motivos de caracterizada insensatez, por parte de muita gente. São as pessoas que adotam a caturrice crônica, a teimosia desenfreada, os eternos “do contra”. Vejamos um caso recente, por exemplo: a contratação do jogador Zizinho, para as cores do futebol profissional da cidade. Alguns “técnicos de botequim”, sem a menor cerimônia, “meteram a colher torta” no assunto, fazendo as “análises” do gesto dos paredros sambentistas. E disseram “cobras e lagartos” do veterano profissional, afiançando que o negocio foi mau, que o jogador “não irá querer nada com a bola” e muitas outras arengas sem lógica.

Respeitamos o ponto de vista de quem-quer-que seja, da mesma maneira que nos agradam os demais, quando respeitam nossos conceitos. Entretanto, forçoso é que condenemos os contumazes caturras, eternos “cabeças de pau”, aqueles que sentem um prazer mórbido em achar “tudo errado”, teimar seguidamente, sem concluírem que se expõem ao ridículo, “dando murros em ponta de faca”.

Um dos apanágios da democracia é a condição de cada qual poder pensar, agir e falar como bem entende, de acordo com a própria consciência. E, em nosso caso, devemos render graças a Deus por essa magnânima felicidade. É justo, entretanto, que exista razão na emissão de conceitos, que se aquilate com imparcialidade um ponto de vista, que se procure um “intermezzo” de razão o mais possivelmente neutro, para que se não incorra em deslizes de opiniões, sem se fazer voltar contra si, a ojeriza ou antipatia gerais.

“Da discussão nasce a luz”, reza antigo brocardo. Antigo e sábio, pelo elevado espírito democrático e liberal que apresenta. Portanto, não se devem agastar, no caso em fóco, os mentores do São Bento, tem como aquela outra parte favorável à contratação do citado jogador. Deixem os “entendidos” e eternos descontentes que falem aos ventos, que se utilizem de nossa bela e cara democracia. No caso, o que vale é a opinião da maioria, maioria que representa, indubitavelmente, os nossos lúcidos, os mais razoáveis.

Pensando bem, é até bonito isso tudo, onde cada mente pensa de um jeito e defende seu ponto de vista. O que não é bonito, é a teimosia intransigente e desarrazoada, maximé quando no caso se aplica perfeitamente o adágio que muito bem afirma: “o pior cégo é o que não quer ver”.

Sempre existiram as pessoas chamadas “do contra” da mesma maneira que sempre existiram trouxas no mundo. Se assim não fôra, repetimos, a vida “não teria graça”...

Extraído do Correio de Marília de 13 de junho de 1959

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