Custo de vida, uma equação (2 de julho de 1959)

Se o chefe da casa é o responsável direto, de fato e de direito, dentro do lar, justo é que prevaleça o ponto de vista que o presidente de um país é também o principal responsável por tudo o que ocorra nessa nação.

Êsse chefe usufruirá as honras totais, se o país progredir, agigantar-se, destacar-se no concerto das demais nações. Igualmente, a êle caberá a primordial responsabilidade, em caso de negativismo em qualquer sentido.

É o nosso caso, com referência ao atual Presidente da República. Terá a sua consagração em face do erguimento de Brasília; terá, por outro lado, o desagrado quase geral, em face da impotência sumamente demonstrada, no sentido de deter um pouco que seja, o espiral inflacionário do país e a pirotécnica ascenção do custo de vida no Brasil. A ganância desenfreada reclama um freio e êsse freio vive a falhar lamentavelmente. Todos se queixam da vida, inclusive os que comerceiam, que principiaram há pouco tempo e que já possuem palacetes, “cadillacs” e amantes à granel.

A vida sóbe dia a dia, apesar de que as trombetas de publicidade do próprio Palácio do Cadete anunciam, vez por outra, que o custo das coisas está decrescendo!

O custo de vida, entre nós, é uma equação e as suas incógnitas ainda não foram delineadas, por falta de um grande matemático. Tudo o que se disser ou se pretender fazer a respeito, será inútil, porque o êrro é de origem e não de causas. Os milhares e bilhões de cruzeiros já empregados na construção dêsse monumento arquitetônico que se chama Brasília, se tivesse sido empregados numa política de efetividade em pról da produção nacional, teriam surtido um efeito melhor e mais positivo, em pról do pobre e sacrificado povo brasileiro.

Os leitores, por certo, perguntarão como tal poderia ou deveria ser feito. A resposta é fácil, facílima de interpretar, mesmo para um garoto do curso primário. E fácil de executar, para qualquer administrador de tirocínio, desprendimento, clarividência e amor à terra. Para eliminar o vertiginoso índice da ganância desenfreada que impera entre nós, mister é que se proceda uma esquematização de processos de maior patriotismo, obedecendo, em primeira plana, os seguintes tópicos:

a) – Maior número de quilômetros de estradas de rodagem e melhores rodovias, para garantir e facilitar o escoamento das produções agrícolas e industriais.
b) – Maior e mais efetivo sistema de amparo e financiamento à lavoura e especialmente aos pequenos agricultores.
c) – Fornecimento a preços mais accessiveis de sementes, adubos, inseticidas, máquinas e implementos para a lavoura.
d) – Garantia e fixação do preço mínimo para o produtor e do preço máximo para o revendedor, limitando os lucros dos comerciantes e obstruindo o exagero de ganhos de certos intermediários, principalmente os que adquirem o produto nas safras, por preços baixos, estoqueia-o para vende-lo nas épocas de pré-safras, por preços exorbitantes, em detrimento dos interesses de toda uma população.
e) – Diminuição das excessivas taxas de descontos em fôlha, reconhida em pról dos IAPS, organismo que vivem pecando pela falta de um atendimento eficiente e regular aos seus assistidos.
f) – Modificação geral nas cobranças dos impostos e taxas, simplificando os processos de arrecadação e economizando rios de dinheiro com os complexos e exdruxulos sistemas de fiscalização.
g) – Amparando melhor a indústria.
h) – Extinguindo milhares de cargos públicos pró-forma existentes no país, destinados na prática a servir tão somente de “cabides políticos”.
i) – Propiciando um clima de segurança e unidade nacional, onde os brasileiros todos tenham maior gosto pelo trabalho e onde se confraternizem entre sí, abandonando aquele sentimento próprio dos lagartos, que é a preocupação do mais ágil devorar a cauda do próximo.

Apenas com estes pontos-base, serão determinados os valores-incógnitas dessa equação que é o custo de vida no Brasil.

Extraído do Correio de Marília de 2 de julho de 1959

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