Ainda a vereança remunerada (8 de agosto de 1959)


Nosso escrito de ontem, acêrca de um movimento reinante entre alguns vereadores, objetivando instituir o sistema de remuneração para a vereança mariliense, serviu de comentários diversos. Conosco mesmo, várias pessoas abordaram o assunto e, dentre meia dúzia de cidadãos, apenas um (edil, por sinal) discordou de nosso ponto de vista, para manifestar-se favoravelmente à remuneração do exercício de vereador.

É claro que cada qual tem o direito de pensar como bem quizer e por isso respeitamos o entender daqueles que entendem o contrário, advogando ou não o pagamento dos vereadores. Nós, entretanto, pensamos de maneira adversa; entendemos o mandato de vereador, maximé no interior, onde as sessões ordinárias são semanais e noturnas, como um “múnus público”. E pensamos ainda – repetimos – que os que não pretendem sujeitar-se à prestação gratuita dêsses serviços, que jamais devem candidatar-se ao pôsto referido. Nunca a vereança no município de Marília deverá constituir-se em motivo de instituição de uma política profissionalista, sangrando em quasi quatro milhões de cruzeiros anualmente, os cofres municipais. A situação é impropícia para onerar ainda mais o povo mariliense com quaisquer elevação de impostos ou taxas e vemos nisso a única saída, pois o prefeito Argollo Ferrão, apesar de engenheiro, ainda não conseguiu inventar u’a máquina de fabricar dinheiro, para serem remunerados os vereadores marilienses.

Quinta feira passada, tivemos um exemplo de abnegação dos edis locais, lógo no reinicio do segundo período parlamentar do ano em curso. É que apenas dois legisladores compareceram à sessão da Câmara (que não ocorreu por falta de número, é lógico), enquanto a maioria, segundo consta, esteve empenhada em comícios eleitorais. Fizeram-se merecedores, os que faltaram ao compromisso empenhado para com toda uma população, de mais um motivo a justificar a pretensão de dependuramento no úbere do erário municipal, pois não?

Falando nisso, até foi bom, pois muitos edis, no uso e abuso de demagogia, tem feito, ultimamente, verdadeiros comícios na Câmara Municipal e é claro que lugar mais apropriado para os “meetings” eleitoreiros, é mesmo a praça pública.

Se a Câmara cometer a incoerência de voltar atrás, com respeito àquela resolução verdadeiramente sadia, que determina seja o mandato de vereador em nosso município, exercício graciosamente, não poderá, é lógico, ser considerada em sua totalidade, como advogada de causas próprias; mas será inegável, que os que assim agirem, deslustrarão os serviços bem intencionados daqueles outros, que, legislam por Marília e para Marília e não para seus estômagos.

É bom que o povo vá analisando essa questão, para ir conhecendo os que são partidários dessa sangria aos cofres municipais, pessoas que, ao envés de buscarem o progresso econômico da municipalidade, procurarão sacrificar o próprio povo com novos encargos e aniquilar ainda mais as economias do município, onerando a receita anual em perto de quatro mil contos de réis por ano.

Nós, pessoalmente, convém que fique claro, nada temos contra vereadores partidários dêsse movimento. Somos contrários, precipuamente, contra êsse áto, que julgamos inglório para aqueles que se intitulam amigos de Marília e que receberam (ou venham a receber), a confiança do povo mariliense, traduzida no conferimento de um mandato de vereador.

Qual será a opinião do leitor a respeito?

Extraído do Correio de Marília de 8 de agosto de 1959

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