O custo de vida (4 de agosto de 1959)


O problema pôde parecer complexo, assim à primeira análise. Entretanto, sua solução é relativamente fácil, embora dependa diretamente de alguns pontos fundamentais, considerados (também à primeira vista) difíceis.

O que se fala, o que se escrever, os gritos, os clamores diversos e a demagogia que em tôrno do assunto se tem feito, se faz e continuará fazendo, nada adiantaram, nada estão adiantando e nada adiantarão. Está faltando, antes de tudo, uma esquematização de ações, um plano sinceramente, decidido, inatacável e positivo, partido do próprio Governo Federal e seguido à risca pelos governos estaduais. Sem isso, nada feito.

A fiscalização dos preços é falha, porque nem todos os seus dirigentes conhecem “de visu” e de móto próprio, as causas, os efeitos, as origens. Impressionaram-se por números estatísticos, que, muitas vezes são mentirosos. Deixam-se levar pelo “bico doce” dos magnatas. Outras vezes, embora ninguém póssam prova-lo em cartório, obtem também algumas “mordidas” pelos “acordos” de aumentos. E em tudo isso, um só reflexo se verifica. Quem sofre é o povo, o zé povinho, de cujo costado poucas possibilidades se apresentam agora, para a continuação desse impune arrancar tiras de couro.

Os lucros são desmedidos. A porcentagem não obedece limites, porque a ganancia impera em toda a parte. O controle só recai mesmo, sôbre os costados do pequeno comerciante, aquele que compra hoje para vender amanha e que é obrigado a acompanhar os preços ditados pelos “tubarões”, servindo, sem o desejar, de bóde expiatório.

Póbre, regra geral, não grita. Nem para gritar tem forças mais. Quem grita são os potentados, os prepotentes, os endinheirados. São os que enriquecem do dia para a noite, quando nem todos poderão declarar, honestamente e em sã consciência, como e por qual meio conseguiram a metamorfose de póbres para ricos.

O comércio atacadista, ou é vítima de entidades congêneres, ou é uma fonte de dinheiro, de maneira quasi geral. Hoje em dia, o negócio é comprar bastante, aproveitar a baixa dos preços (ou a necessidade do pequeno produtor) e estocar. O lucro vem depois, dobrado, triplicado, sem tardar, matemático como a teoria de Einstein.

Daí, a intenção é clara: ou vender com lucro fabuloso ou procurar esse mesmo lucro fabuloso onde ele estiver, quer seja distante. Pôde haver mais impôsto, ou mais correto. Quanto maior for a despesa de remessa, maior será o lucro líquido.

Para exemplo, citaremos o arroz. A COMAP que verifique, para constatar que o produto citado, está sendo recusado à venda nesta praça, para ser remetido para São Paulo, por um preço mais elevado ainda. E não é coisa antiga. Está acontecendo desde sexta feira passada!

Portanto, o custo de vida só será detido, quando foi delimitado o lucro do intermediário, garantindo o preço mínimo para o produtor e garantidas as necessidades mínimas de quem planta: transporte, adubos, sementes, máquinas e inseticidas. O mais é conversa, é “farol”, é demagogia... E por falar em demagogia, até a política abjeta entrou “na dança” nesta questão. Aqui mesmo em Marília, sem senhores.

Desculpem-nos os que, bem intencionados e honestos, tomaram parte na caminhada em evolução. Escusem-nos os que agiram com o coração e fecharam os olhos à demagogia e á politicagem. Para nós, conversa fiada não resolve. E demagogia com política barata, muito menos.

Nada adianta movimentos aquí, se a própria COMAP não dispõe de rédeas para guiar o cavalo dos preços e se este próprio cavalo é alimentado pelo incúria do próprio Chefe da Nação, mesmo indiretamente!

Extraído do Correio de Marília de 4 de agosto de 1959

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