O negócio é o seguinte... (15 de agosto de 1959)


O atual Chefe da Nação, ao lado da construção de Brasília, incentivou e prestigiou bastante a indústria automobilística nacional. E temos entre nós, a fabricação em série e em grande escala, de caminhões e automóveis de diversos tipos, marcas, qualidades e gostos.

Os veículos “made in Brasil”, apesar de todo o apôio e facilidade conferida pelo govêrno brasileiro às industrias automobilísticas, tornaram-se, praticamente, mais caros do que os importados. E suas qualidades de duração estão em suspenso, porque ainda não fazem cinco ou dez anos que estão rodando nas estradas nacionais.

Está o Brasil, portanto, graças ao atual Presidente da República, em condições de exportar caminhões e automóveis, para quem quizer compra-los. E, se está em condições de exportar veículos, uma outra realidade dura, núa e crúa existe à margem, capaz de envergonhar-nos, até perante os países mais póbres do globo terrestre: É que nosso país está também em condições (necessidade) de importar arroz, feijão, banha e até milho!

É mesmo u’a maravilha, pois não?

Com respeito às nossas possibilidades de exportar veículos e às necessidades desenhadas de importar arroz e até feijão, só mesmo parodiando o dito popular e perguntando só Sr. Juscelino Kubstschek, “qual a vantagem que Maria leva”?

É mesmo incrível o que está acontecendo entre nós, nessa questão de abandono dessa comezinha necessidade, que é a fiscalização e contrôle dos gêneros de primeira necessidade. Desmandos e desgovêrnos, somente, podem justificar essa permanente apreensão dos brasileiros, especialmente os brasileiros póbres. A ganância impéra impunemente, capeada pelo prestigio pessoal ou sagacidade de milhares de “tubarões”, que fazem o papél dos lagartos: o mais esperto procura comer a cauda do mais tolo!

O caso do feijão, recente, atual, está chamando atenções de nossas autoridades, impotentes para conter a onda altista, os desmandos e os abusos, cujos efeitos negativos ricocheteiam nos costados daqueles que são os mais necessitados, os mais miseráveis e os menos favorecidos pela fortuna. Existe feijão na praça, mas não se vende, porque o que interessa no caso é a cotação maior, que se encontra com facilidade, fóra do mercado mariliense. Nossa COMAP, continuamente inerte e pusilânime, de há muito deveria ter procedido a um levantamento de estoques, tabelando os preços do produto e fiscalizando as baixas das cifras de sacas armazenadas. Simultaneamente, impedindo a saída do cereal precioso para outros centros, enquanto não estivesse provada a existência da quantidade mínima exigida ao consumo dos marilienses. Assim seriam dicados os abusos que estamos vendo, porque a questão do feijão em Marília está sendo mesmo um abuso dos mais flagrantes.

Impunes e satisfeitos com a manobra, alguns cerealistas da cidade ensairam (e já puseram em prática), mais outro assalto e outra apreensão ao público mariliense: “sumiram” com a batatinha do mercado!

Grande estoques de batatas temos na cidade, mas não são vendidos (nem ao público e nem aos pequenos armazéns), porque grandes e fabulosos negócios, com preços maiores e pagamentos à vista, foram estabelecidos, ontem e ante-ontem, com armazéns do Rio de Janeiro!

A COMAP não percebeu, ao que acreditamos, mais esse golpe contra a economia popular mariliense. E o organismo controlador e fiscalizador de preços, deve, imediatamente, por-se à campo, impedindo que suceda também com a batatinha, o que aconteceu (e está acontecendo) com o feijão.

Que o órgão fiscalizador aja imediatamente, levantando os estoques, tabelando os preços, fiscalizando as vendas e impedindo as saídas, fazendo, se necessário, com que os que já venderam o produto para o Rio de Janeiro, em prejuízo. Os interesses coletivos da população mariliense, que não possam entregar o produto, procedendo a devolução das importâncias recebidas adiantadamente.

Sim, pois não se admirem os leitores, se amanhã viermos a público, informando que os mesmos comerciantes que hoje venderam os estoques de batatinhas para o Rio de Janeiro, ganhando mais do que o razoável, foram além Marília, adquirir o mesmo produto, para revende-lo novamente, por cotações maiores.

Isso é um verdadeiro crime contra a economia popular!

Extraído do Correio de Marília de 15 de agosto de 1959

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