Pau de amarrar égua (5 de agosto de 1959)


Certa vez, ao analisarmos a função de jornalista, dissemos que nossa tenda de trabalho se transforma, em muitas vezes, num autêntico “muro de lamentações”. Isso porque, não raro, recebemos sugestões ou queixas das mais esdrúxulas imagináveis, quando alguém nos procura para que façamos o papel de borracha – isto é, apagar erros alheios.

Dissemos que as consultas mais esquisitas do mundo, são dirigidas algumas ocasiões ao profissional de imprensa, na esperança de que alguma coisa seja consertada. Ao lado das razões lógicas, se apresentam algumas idéias de caráter absurdo, como, por exemplo, a do leitor que nos insinuou outro dia, que comentássemos o procedimento irregular de determinada dona de casa.

Nosso escrito a respeito, serviu de motivo até para um outro colega, que não teve qualquer pejo em nos pregar uma “lavada” em boas condições. Não ligamos para o fato, porque sabíamos o que estávamos dizendo...

Curioso, que, posteriormente, a mesma pessoa que incriminou nossa escrito, veio a público com idêntica defesa que por nós fôra abordada e confirmando, em palavras diversas, nosso mesmo ponto de vista.

Águas passadas, não movem moinhos – reza antigo brocardo. Acontece que algumas pessoas, talvez no desejo de colaborar conosco (segundo pessoas), continuam a nos enviar sugestões para a feitura de alguns dos nossos comentários. Infelizmente, nada aproveitável, porque até motivos de quezilhas íntimas tem sido trazidos até o nosso conhecimento. Lógico que ninguém vai escrever que “fulano não presta”, somente porque um leitor sugeriu que tal fôsse escrito. Ninguém gosta de servir de tábua de bater roupa, isso é claro. Ninguém aprecia ser considerado pau de amarrar égua, quer dizer, servir de fuxíqueiro e aprontar “rôlos”, só para contentar outrem, acreditando piamente numa pessoa que demonstra, em rápida análise, um despeito pessoal ou uma ira particular contra um semelhante, mas que, não tem a coragem suficiente de colocar as cartas na mesa, e resolver a questão como deveria fazer. Gente assim, recorre ao jornalista, argumentando que “quem escreve deve ter coragem e dizer o que é verdade”. Concordamos no que diz respeito ao “ter coragem”, pois uma pessoa, só pelo fato de desfrutar o privilégio de rabiscar para um jornal se der ao trabalho de servir de alcoviteiro para contentar u’a minoria quando não for só pessoa, sem analisar a razão de interesse geral, deve mesmo ter coragem. E muita, olhem lá.

Tal nos veio à memoria, em virtude de um telefonema que ontem recebemos, de um “admirador sincero” de nossos artigos. Nosso interlocutor, que fez questão em não declinar a identidade, pretendeu nos fazer de pau de amarrar égua, desejando atirar-nos contra uma autoridade policial. E por motivo atoa, diga-se de passagem. Por uma bobagenzinha, que, temos a certeza, se ele pessoalmente a expuzesse à pessoa focalizada, obteria, de imediato, a devida atenção.

Interessante é que nosso amigo insinuou que nós não temos a suficiente coragem de assumir tal responsabilidade. E ele, que não se dirigindo a autoridade colimada, não teve siquer a ombridade de se identificar! Não, não somos pau de amarrar égua.

Extraído do Correio de Marília de 5 de agosto de 1959

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