Prestigio pessoal (1 de agosto de 1959)


Para quem não morre de amores pela política, como é o nosso caso, fácil é o analisar-se a conduta daqueles que se não fazem a política como profissão primordial, pelo menos dela tiram algum proveito e a ela dedicam grande parte de suas preocupações diárias.

Já tal fato não sucede com o cidadão que tem qualquer vínculo doutrinário, pois, por mais imparcial que procure ser, sempre verá uma oportunidade indisfarçável de “puxar a sardinha” para um lado. Isso é natural e a política é mesmo como o amor; basta a gente gostar, para achar “tudo azul”, ignorando defeitos que estão visíveis, que todos veem, menos o apaixonado. Coisa assim parecida com o sentimento amoroso de alguém, que, perdido de paixão, consegue ver, no ente amado, uma beleza natural e exterior inexistente e às vezes inexistente também anteriormente.

Isso nos ocorreu, ao presenciar ontem, por méro acaso, um “tete-a-tete” político, entre dois cidadãos locais, politicamente contrários. Discutiam ambos o prestígio pessoal dos Srs. Adhemar de Barros e Jânio Quadros, virtualmente considerados “eleitos” para o cargo de Presidente da República. Notamos, pelas afirmativa das duas pessoas, uma paixão política desenfreada e difícil de dobrar ou aceitar qualquer parcelas de verdade, contraditórias nos seus pontos de vista.

Para o janista, Jânio continua a ser um político sem similar no Brasil, perfeito, completo em todos os sentidos. E o partidário do ex-Governador teceu comentários fabulosos acêrca da personalidade do Sr. Quadros, o remodelação nas finanças de São Paulo, a realização indiscutível do impulso progressista, etc., etc.. Já o partidário do Sr. Barros apontou erros no ex-governador e endeusou o Sr. Adhemar de Barros, colocando-o num verdadeiro e hipotético pedestal de um autêntico Santo da Terra.

As argumentações e contra-argumentações dos dois homens, perderam muitas vezes para a ironia, quando até “bichos” pejorativos foram externados! “Gozações” sem conta, partiram de um contra outro apaixonado dos políticos citados, sendo difícil o dizer-se quem teria vencido a polêmica, uma vez que quasi nenhuma ponderação plausível fôra exteriorizada com fundamento indestrutível. Os dois cidadãos cingiram-se ao repizamento das velhas “chapinhas” conhecidíssimas do publico eleitoreiro, tendo, a certa altura, perdido a graça toda a contenda.

Por curiosidade, continuamos acompanhado o desenrolar dos acontecimentos citados, como méros “focas”, apreciando naquela amontoado de palavras ôcas e transbordantes de paixão política, uma arenga que não pagaria a pena assistir.

Foi quando um dos polemizadores atentou para nossa presença e procurou colocar-nos num torniquete, pedindo-nos a manifestação “de um grande jornalista”, sôbre qual dos dois (Adhemar e Jânio) possui, de fato, maior prestigio pessoal. Encontramos, de pronto, a “saída” para a situação; dissemos que não conhecíamos bem a questão o que ali estávamos ouvindo a conversa, com o fito de aprender também...

Extraído do Correio de Marília de 1 de agosto de 1959

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