Vereança remunerada? (7 de agosto de 1959)


Consta a existência de um movimento objetivando que o exercício da vereança, em nosso município seja remunerado, já a partir da próxima legislatura.

A base dêsse objetivo, seria a própria lei específica das comunas, segundo se sabe ainda.

Curioso êsse movimento, principalmente em Marília. Curioso e algo esdrúxulo, pois nossa Câmara, ao votar uma resolução bastante sadia do ex-vereador Álvaro Simões, deliberara que em nosso município, o mandato de vereador só seria exercido gratuitamente, como um “múnus público” que é. Tal decisão carreou para a edilidade mariliense, uma série de aplausos de diversos outros centros e a deliberação em aprêço, do corpo legislativo local, foi citada como exemplo frisante dos mais patrióticos imagináveis.

Entendemos nós, apartidários que somos, que obrará infinitamente mal e de maneira bastante incoerente, a Câmara Municipal de Marília, se, por sua maioria, der guarida ao pretendido em referência. O cargo de vereador, principalmente em nosso caso, com uma reunião ordinária e noturna semanal e em período incompatível com o serviço normal e diário do cidadão, deve continuar a ser gratuito. Do mesmo ninguém deverá tentar uma carreira de política, instituindo aquilo que poderia ser chamado de “profissionalismo parlamentar”. Os que não estiverem dispostos, então, a prestar a sua colaboração ao povo e à cidade, que não sejam candidatos. Pelo menos, assim, estariam sendo mais sinceros, não só consigo próprios, como igualmente com a população em geral.

De acôrdo com o que percebemos, a pretensão daqueles que são favoráveis à remuneração da vereança em Marília, alcançaria, “per capita”, a importância de 15 mil cruzeiros, aproximadamente. Multiplicada essa monta por 21 edis e por doze meses, os cofres municipais seriam sangrados em perto de 3 mil e 800 contos de réis por ano! Este será o “presente” que algumas pessoas, que se dizem bons e bem intencionados marilienses, querem nos dar!

O interessante disso tudo, é que os que são partidários dessa remuneração, estão “moitados”, como raposas. Não “se abriram” publicamente, porque estamos em plena época de campanha eleitoral, e, sabem eles, o povo que vóta e que é o juiz soberano, repudiaria seus nomes. Estão “de tocaia”, para tentar a aplicação do “golpe” (o têrmo é rude, mas ajustável) em ocasião mais oportuna, quando os eleitores nada mais puderem fazer!

Francamente, é de estarrecer, a existência em Marília, de algumas pessoas que votaram (e outras que aplaudiram) a decisão da Câmara (de autoria do Sr. Álvaro Simões), no tocante à não remuneração da vereança entre nós, pensarem de maneira contrária, fragrantemente contrária, algum tempo depois.

Perto de quarto milhões de cruzeiros custará ao município, anualmente, o pagamento da edilidade, caso póssa vingar a idéia em referência! O suficiente para o prosseguimento das óbras de pavimentação da “urbe”, o necessário para a extensão das rêdes de água e esgôto e também urgente para a ampliação do setor escolar primário do município! Os que são partidários desse movimento, entretanto, pouco se importarão com isso, porque, o que eles pretendem, não há dúvida, é dependurar-se nas têtas do erários municipal!

O povo que ausculte o movimento e veja quem são seus autores, para dar aos que se dizem bons marilienses e que estão propensos a empreender êsse caminhada inglória, o necessário corretivo e a resposta adequada, esquecendo seus nomes para o pleito de 4 de outubro!

Extraído do Correio de Marília de 7 de agosto de 1959

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