Mercado de carne (16 de setembro de 1959)

Em recente editorial do jornal “Osservatore Romano”, que se edita no Vaticano, os concursos de beleza que vem sendo realizados ultimamente em todas as partes do mundo, foram classificados como “mercados de carne”.

A expressão pode parecer um tanto rude assim à primeira vista, mas não deixa de ter a sua razão e o seu fungo lógico. As assertivas referidas do “Osservatore Romano” baseiam-se nas declarações da atriz francesa Martine Carol, ao ter esta afirmado que usou “pouca roupa de banho” em várias películas cinematográficas e que agora pretende dedicar-se exclusivamente à arte. O jornal não mencionou o nome de Martine Carol, mas deixou clara a sua identificação, sem qualquer margem de dúvidas.

Apreciando o uso de pouca roupa, o citado órgão oficial de Roma condena veementemente os concursos de beleza como sendo autênticos mercados de carne e nessa condenação incluiu o certame que escolheu “Miss” Europa em Palermo, no último dia 30. Esclarece o mencionado editorial, que “não é apenas coincidência o fato de que o primeiro passo para o “olimpo moderno” é um concurso de beleza. E acrescenta: “E não é uma coincidência que nessa espécie de mercado de carnes o uso de pouca roupa é uma condição indispensável”.

Se analisarmos os exemplos que dispomos, aquí mesmo entre nós, poderemos constatar, com facilidade ímpar, que os concursos de beleza, regra geral, tem apresentado resultados negativos à boa formação moral e aos costumes da família. Ainda há pouco, liamos uma reportagem algo sensacionalista, mas que não deixou de apresentar provas e que se referiu a “Miss” Brasil, srta. Vera Ribeiro. A reportagem que nos referimos foi publicada num dos últimos números da revista “Confidencial”, editada no Rio de Janeiro. Assevera, dentre outros fatos, péssima formação de costumes da última representante da beleza feminina brasileira, inclusive provando com fatos e documentos a sedução de Verinha a um homem casado!

Realmente, os concursos de beleza, em trajes de banho, não deixam de ter os seus poucos vexatórios, pois entendemos que u’a moça de boa família e de bons costumes, sobretudo de boa formação religiosa, não se submeta assim, com facilidade, a exibição pública de suas fórmas plásticas, demonstrando ou dando a entender com clareza meridiana a beleza do próprio corpo. Aí está, porque, pensamos, tem razão o “Osservatore Romano”. Aliás sôbre o assunto, muito se tem falado e muito se tem escrito. De nossa parte, estamos apenas comentando o editorial do jornal referido, porque em tal coluna só são observados assuntos de real importância e capital responsabilidade. E se o “Osservatore Romano” observou com firmeza tal questão, é porque as provas que dispõe são muitas e reais.

Efetivamente, temos visto que dos concursos de beleza, as vencedoras, regra geral, saídas do anonimato ou da obscuridade, após vitoriosa no certame, passam por uma radical metamorfose em suas vidas particulares e algumas até já descambaram para um caminho diverso daquele que seguiam até poucos dias antes de terem sido eleitas.

Os concursos desse jaez teriam maior acêrto, se ao envés de serem eleitas as moças que se apresentassem com menos roupa, determinassem as moças que mais qualidades apresentassem para ser boas donas de casa e excelentes mães!

Muitas dessas beldades, não se póde negar, apesar de saberem desfilar como gazelas sobre passarelas iluminadas, rebolando os quadrís e empinando os bustos, são incapazes de preparar um bom bife, de temperar um arroz, de matar um frango e algumas (é o cúmulo!) até de fazer um cafezinho bem brasileiro!

Extraído do Correio de Marília de 16 de setembro de 1959

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