Não, não somos briguentos! (17 de setembro de 1959)

Como qualquer pessoa sensata, somos também apologistas do antigo dito, que afirma que “roupa suja se lava em casa”.

Sucede, porém, que terça feira última, ante-ontem, vimo-nos forçados a desprezar a afirmativa supra referida, para adentrarmos, embora a contra-gosto, num pormenor que diretamente diz respeito à cidade e ao povo mariliense, visto tratar de assunto que encontrou uma repercussão sem precedentes em quasi todos os quadrantes do país.

Encontrava-se o autor destas linhas num tabelionato de São Paulo, tratando de assuntos particulares. Ao ser chamado por um escrevente e não sabendo nosso nome, gritou por “Senhor de Marília”. Ao ouvir isto, um cidadão que alí se encontrava e que posteriormente se identificou como sendo advogado, perguntou-nos se eramos de Marília. Ao respondermos afirmativamente, o homem indagou: “Você também é briguento?”.

A pergunta, assim de chofre, confessamos, nos “desmontou”. Quisemos saber a sua razão e o homem esplicou: “Vocês não foram os que desautoraram o Presidente da República, obstando a visita do mesmo à cidade e considerando-o “persona no grata?”.

Precisamos entrar no mérito da questão, para desfazer o juízo que aquele estranho cidadão fazia de nossa cidade. Porisso, perguntamos-lhe se ele conhecia Marília, sua gente, seus realizações e dinamismo de nossa “urbe”. Disse-nos que não, mas que conhecia o assunto. Retrucamos que não conhecia o assunto, porque não fôra Marília e nem tão-pouco as suas autoridades representativas que assim agiram. A questão fôra levantada por uma entidade de classe e nós próprios não sabíamos se interpretara e consultara os interesses da totalidade da classe representada. Apenas isso. Nenhuma autoridade constituída de Marília, com credenciais, portanto, para falar em nome da cidade e de sua coletividade, tivera a iniciativa que tanta espécie causara ao mencionado cidadão.

E arrematamos aconselhando ao mesmo, que fosse mais ponderado em seus juízos, que viesse primeiro à Marília, conhecer “in loco” sua gente, suas lutas, suas realizações e o índice de febre indebelável de seu progresso, progresso, que, afirmamos ao nosso inter-locutor, reservadas as proporções devida, equipara-se ao da própria São Paulo, considerada a cidade que mais cresce no mundo!

Parece-nos que o cidadão aceitou as ponderações que fizemos acêrca das conclusões que alimentava, até então, de Marília e sua gente. Mesmo assim, ficamos algo aborrecidos com a conversa, pois nos convencemos de que, pela lógica dos acontecimentos pretéritos e atinentes ao caso em téla, não teria sido o causídico em aprêço, a única pessoa a julgar Marília e sua gente por uma ação ou um gesto de u’a minoria.

De qualquer maneira, fizemos na ocasião e na circunstância, aquilo que se nos pareceu mais certo: procuramos defender Marília, suas autoridades e seu laborioso e grande povo, como, estamos convencidos, o faria qualquer um daqueles que são marilienses autênticos e orgulhosos. Isto, porque o povo mariliense não é briguento, conforme insinuou o nosso amigo e nós, igualmente, não somos briguentos também!

Extraído do Correio de Marília de 17 de setembro de 1959

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