Avisinha-se o Natal (28 de novembro de 1959)

A data magna da Cristandade se aproxima. Com ela, a natural onda de alegria, a esperança de que a efeméride tão grata, encontre a todos as famílias, num estado geral de felicidade. Sem preocupações ou aborrecimentos com doenças, finanças, etc., para que o transcurso da fausta data seja condignamente comemorado.

Com o Natal, virá também o “Papai Noel” da petizada. Com a época atual, até o bom velhinho de cabelos e barbas brancas sente os efeitos da crise, as agruras da inflação. De imparcialmente bondoso, o homem que a Europa coberta de neve nos mandou numa lenda tradicional, passou, de alguns anos até esta data, a ser parcimonioso, discriminativo. Não pode atender a todos, não estará, como das vezes anteriores, em condições de descer através de todas as chaminés, para brindar a todos os seus “netinhos” com ricos presentes. Muitos pequenos ficarão decepcionados, com toda a certeza. Outros, mais afortunados, serão mimoseados com ricos brinquedos.

Da mesma maneira que divergirão as distribuições ou não de brinquedos para os pequeninos esperançosos, registrar-se-ão idênticos fenômenos com respeito à fartura nas mesas dos ricos e pobres.

Quantas famílias em Marília passarão um Natal como qualquer outro dia do ano? Com a mesa minguada, a fome rondando as casas como um aspecto maligno, as crianças subnutridas e maltrapilhas? Quantas?

Certamente, como das vezes pretéritas, entidades de benemerência e organizações assistenciais, promoverão campanhas de altruísmo, objetivando proporcionar um Natal mais feliz às famílias mais infelizes. Que o façam, pois. Apenas pretendemos, nesta oportunidade, chamar as atenções das pessoas que, imbuídas dêsse louvável espírito de fraternidade e solidariedade humana, que não deixem para a última hora os trabalhos organizadores. Que estudem tudo direitinho, para não olvidar os principais detalhes do bom desempenho dessas cruzadas.

Isto estamos dizendo, com o fito de colaboração, com o intento de criticar construtivamente. Temos visto, nos anos passados, verdadeira balbúrdia nesse setor, com trabalhos não mui bem organizados, morosos, com filas intermináveis de pobres humilhados, com durações incríveis, onde até desmaios se verificaram nas “bichas”, face as demoras indefinidas. Por outro lado, temos visto distribuições pouco completas no sentido de organização, de maneiras que alguns pedintes tenham sido premiados por mais de uma vez, quando outras famílias ficaram “a ver navios”, em virtude dessa falha.

Ainda há outro ponto a ponderar: Urge que a COMAP haja com energia, evitando os abusos naturais que comerciantes, ambulantes e varejistas impingem aos marilienses na época de Natal. Frangos, ovos, bebidas, frutas próprias da data e muitas outras coisas, deverão ter seus preços controlados, a fim de evitar-se as explorações que campearam livremente nos anos findos. As explorações referidas marcaram novas cotações, pois os preços ditados a bel prazer nessas circunstâncias, passam a constituir-se em preços de fato para o futuro; isto é, não são elevados apenas nessa época para baixar posteriormente, pois, em verdade, não “descem” jamais.

Aqui ficam os lembretes...

Extraído do Correio de Marília de 28 de novembro de 1959

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