Juizo, vergonha e trabalho (11 de novembro de 1959)

Vez por outra, em nossos escritos, temos abordado a situação econômica nacional, paupérrima e claudicante, vergonhosa e de horizontes negros. E não temos nos pejado em atribuir os citados efeitos, como consequência de um autêntico desgovêrno.

Algumas pessoas, sem o cuidado de u’a análise mais acurada e de todo imparcial, movidos antes de mais nada pela razão de não querer “dar o braço a torcer”, nos incriminaram verbalmente, havendo até alguns que nos tacharam de inimigos do Sr. Juscelino Jubtschek. A respeito, já dissemos, nada temos pessoalmente contra o atual Chefe da Nação.

Não somos contra o Sr. Juscelino, o homem; somos contrários ao Sr. JK, o Presidente.

Pela coincidência de idéias, vamos transcrever na íntegra, um artigo do jornalista Ruy de Menezes, publicado no “Correio de Barretos”. Eis, pois, o conteúdo de uma idéia e de uma observação que se casa perfeitamente com o ponto de vista que empossamos:

“A atual geração de moços desconhece – graças a Deus! – o que seja uma revolução e suas consequências. Tendo acontecido a última há mais de 27 anos, êsses que por aí andam na flor do dia idade não sabem o quanto de tristeza, de mágoa, de lágrimas e luto, significa um movimento armado dentro de um País. Se viveram, alguns dêles, através do noticiário dos jornais pelo menos, os horrores de um conflito mundial, como o derradeiro, não podem avaliar, contudo, o que venha a ser a guerra dentro de casa, com irmãos se matando em cada esquina, a morte espreitando atrás das árvores, a comoção geral, o desassossego das famílias, a intranquilidade, a paralização das atividades comerciais, a fuga das populações das cidades em busca de abrigo no campo, o diabo, enfim! – que sòmente avalia e pede a Deus que nunca mais se reproduza, aquele que passou por essas desgraças todas.

Pois, bem, se não tivermos juízo, apesar de nosso amadurecimento democrático, acredito que estamos na iminência de ver o sólo pátrio, outra vez, tinto do sangre generoso de nossa gente, conforme, aliás, já o previu o senador Afonso Arinos, falando nos riscos de uma revolução vermelha, não nos sentimos da coloração ideológica, mas, no da tintura própria do sangue.

E que nos falta para que tudo isso seja evitado? Pouca coisa: um bocado de juizo e de vergonha, por parte dos dirigentes da coisa pública, e muita deliberação de trabalhar que deve animar o nosso povo. Juizo, vergonha e trabalho formam exatamente a trilogia em que se assentam a segurança de nossas instituições, a tranquilidade das famílias, o futuro da Pátria, o seu progresso e desenvolvimento e tudo quanto de bom a gente pode desejar para este colossal Brasil, que vive a dormir eternamente em berço esplendido.

Se não temos feijão, de quem é a culpa? Se a carne nos falta à mesa, também, que será o responsável por tudo isso(?). Por acaso, temos cuidado de plantar feijão e de impedir a matança indiscriminada de vacas, sufocando na matriz a própria produção, para exportar com o fito de saciar a fome de divisas, ou, ao contrário, longe das preocupações futuras de importar feijão dos Estados Unidos e carne da Argentina, água do Chile, tijolo da Alemanha, couve da Arábia, repolho de Israel, pérola do Japão, diamantes da África, pensamos em que tudo isso nos cáia do céu e, se não cair, São Pedro e mais os “trusts” norte-americanos é que serão os culpados?

Na casa onde falta o pão, todos gritam e ninguém tem razão, diz o ditado! O de que carecemos é, como disse, um bocado de juizo e de vergonha e muita vontade de trabalhar. Não adiantam reclamações, pois, é certo o provérbio de Confúcio: “Antes acendes, uma véla que lamentar a escuridão”, o que nos indica o caminho da operosidade, da deliberação de vender as marés violentas dos impecilhos opondo-lhes o dique das realizações efetivas, sem nos esticarmos, dolentes, na areia morna das queixas e imprecações. Porque é isso o fermento propício das revoluções, que surgem da inveja e do ódio, do inconformismo com as frustações, quase tôdas, no entanto, fruto da preguiça, da imprevidência e da incapacidade.

Ainda está no tempo de evitarmos a eclosão de qualquer movimento armado, como pseudo medida de arrumação das coisas. Basta, para tanto, que nos preocupemos em entender a mensagem da vitória que se contém na trilogia: Juizo, Vergonha e Trabalho.”

Extraído do Correio de Marília de 11 de novembro de 1959

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