O que é que a Câmara pensa? (19 de dezembro de 1959)

Sim, é a pergunta que formulamos, na certeza de que algum senhor vereador mariliense nos responda honestamente: o que é que a Câmara pensa?

A indagação vem a propósito da inércia da edilidade, traduzida em não realização de oito sessões consecutivas, inclusive a última sessão periódica do ano, pela primeira vez nos doze anos de funcionamento da edilidade local, após o período de redemocratização do país.

Vereador em Marília não é remunerado, mas seus serviços são considerados relevantes e de interêsse público. Ninguém é obrigado a ser candidato a vereador, mas isto acontece e o mesmo é eleito, tem responsabilidades para com o público, da mesma maneira que os que são assalariados.

A Câmara Municipal de Marília, nos últimos tempos, apresentou uma inatividade a toda prova. Os edis teimaram, em sua maioria (uma vez que não havendo maioria, não foram realizadas as reuniões), a negligênciar suas obrigações para com o público e isto fizeram. Política? Displicência? Mede de responsabilidade?

Se política é o móvel dêsse estado de coisas, não tenham dúvida do que só pode tratar-se de política abjeta, destrutiva, de quilate aquém de um julgamento normal.

Se displicência, merece condenação do eleitorado mariliense, êsse eleitorado que aceitou e acatou as promessas “solenes” do servir Marília e seu povo.

Se medo de responsabilidade, o caminho a seguir é um só: renúncia.

Os vereadores que não completaram o coeficiente regimental para dar número às sessões não realizadas, têm sôbre os ombros uma responsabilidade grandiosa. Prejudicadamente a própria população, ao deixarem de apreciar, discutir e votar três importantes projetos de lei: o que trata da constituição da Comissão de Arte e Cultura de Marília; o que diz respeito à doação do imóvel da Faculdade de Filosofia, para a construção de um pavilhão para o funcionamento do curso de história natural; o que alude a suplementação de verba especifica, para que a Prefeitura pudesse efetuar o pagamento de dezembro (antes do Natal), ao funcionalismo municipal.

O primeiro projeto diz respeito direto aos marilienses em geral, pois visa a criar um órgão que se constituirá numa peça da engrenagem artística do próprio Govêrno Estadual.

O segundo, importantíssimo também, relaciona-se com uma providência de caráter urgente e ligada ao setor educacional da cidade.

O terceiro tem o seu fundo humano; os servidores públicos municipais, desde o mais categorizado da Prefeitura até o mais humilde dos operários, ficarão certamente ficarão certamente privados do recebimento em tempo hábil de seus vencimentos ou salários de dezembro, a fim de poder passar um Natal um pouquinho mais ameno.

Isso sem contar-se com outros assuntos importantes, pautados na Ordem do Dia e sem considerar-se alguma outra providência de última hora, que poderia ser deliberada pela Câmara e traduzir-se em benefícios ou consultar os interêsses dos marilienses.

Não gostamos, francamente, dêsse desleixo de nossa Câmara. Fazemos a ressalva aos edis que procuraram comparecer às sessões, com o desejo de trabalhar e que não têm culpa no caso. Não perdoamos os que executaram êsse relaxamento, em detrimento dos interêsses do público.

A proposito, nesse “negócio” até parece existir um “dedinho político” com uma intenção abjeta, que, para gâudio de seus “idealizadores” e para prejuízo do povo, parece que “deu certo”...

Extraído do Correio de Marília de 19 de dezembro de 1959

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