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Mostrando postagens de fevereiro, 2012

Arquivo pessoal de José Arnaldo

Por causa de incêndio e enchente que afetaram a sede do Correio de Marília, estão faltando nos arquivos do jornal as colunas escritas por José Arnaldo nos meses de março, abril, maio e junho de 1973. Temos apenas os textos de janeiro e fevereiro, já blogados. E aqueles referentes a julho, agosto, setembro, outubro e novembro de 1973, que blogaremos futuramente. Portanto, vamos lançar mão de textos inéditos que encontramos no arquivo pessoal de José Arnaldo para suprir a falta das colunas de março a junho de 1973. O primeiro texto será blogado amanhã, 1º de março de 2012. São Paulo, 29 de fevereiro de 2012 Os Editores

Feliz carnaval, leitores (27 de fevereiro de 1960)

Oficiosamente, inicia-se hoje (27/2/1960) o período carnavalesco de 1960. Começa portanto neste sábado, o tríduo carnavalesco. Tríduo de quatro dias. Que se divirtam todos, como podem e como devem. De maneira respeitosa e sensata, sem os exageros que algumas pessoas procuram lançar mão, sob pretextos de carnaval. Somos, de nossa parte, favoráveis aos folguedos carnavalescos (embora não gostemos de “pular”), porque entendemos que o público tem o direito de divertir-se de quando em vez, principalmente o público brasileiro, eternamente sacrificado com a própria vida tão difícil de nossos tempos. O que não aplaudimos, isso sim, são os excessos, as bebedeiras inúteis, os “rolos” que aprontam alguns maleducados e irresponsáveis. Não pactuamos com o desrespeito, justificado insensatamente como sendo seus próprios das festas momescas. Nos últimos tempos desapareceram praticamente o carnaval de rua. Passou a imperar apenas nos salões fechados, ou de já não transcorre com o mesmo típico b

“Galo de briga”? (26 de fevereiro de 1960)

O fato ocorreu mais ou menos assim: Certo leitor nos parou ali na Avenida um dia dêstes. Convido-nos para o clássico cafezinho. Enquanto aguardávamos a ocasião de saborear a rubiácea, o nosso amigo principiou a falar sôbre multiformes assuntos. Primeiro foi o caso da vitória espetacular do São Bento sôbre o Bragantino; depois o carnaval; e outras questões diversas. Nosso amigo saltava de um motivo para outro, qual canguru picado por marimbondo. A vida de hoje demanda urgência. Estávamos apressados, pois tínhamos adiante compromisso de trabalho com hora marcada. O rapaz estava, não há dúvidas, com vontade de falar e nós, embora sem a indelicadeza na ocasião de dizer-lhe que não estávamos dispostos a ouvir muita coisa, dissimulávamos, olhando insistentemente o velho relógio – forma indireta de dizer que se está com pressa. Nosso amigo não percebia ou não queria entender a insinuação. Continuava a abordar uma série de assuntos. Nuns 10 minutos de “conversa mole”, o rapaz já havia

“Santo de Casa...” (25 de fevereiro de 1960)

Dito jocoso êsse, que afirma que “Santo de casa não faz milagre”. Sua comparação grotesca, em sentido figurado, atesta uma verdade insofismável: certo descuido ou indiferença, algumas vezes até descrédito pelo que nos pertence, para ver consignada uma preferência direta pelo alheio. Mesmo que tenhamos entre nós, em melhor condição, justamente aquilo que buscamos fora. Em outras palavras e em outro brocardo: “a galinha do vizinho é sempre mais gorda”. Ocorreu-nos essa idéia, após uma palestra que mantivemos ainda ontem (24/2/1960), com o professor Milton Póvoas, acêrca das solenidades de formatura da terceira turma de bacharéis em economia, da Faculdade de Ciências Econômicas de Marília. Ao indagarmos do ilustre mestre, sôbre a cifra de matrículas daquele estabelecimento de ensino superior para o ano letivo em curso, ficamos sabendo que a preferência pelo citado curso, acentua-se em índice de projeção, por alunos provindos de outras plagas. Isto é, a maior porcentagem de acadêmi

Exemplo de pais... (24 de fevereiro de 1960)

Fato verídico êste. Sucedeu na noite do último sábado (20/2/1960) , num dos bailes pré-carnavalescos realizados na cidade. Assim póde, ser resumido. O policial em serviço no aludido recinto, procurou, à certa altura da noite, um comissário de menores, para relatar que do lado de fora do recinto (na rua, bem entendido) se encontravam algumas crianças, chorando. O comissário acercou-se de três menores, procurando saber as razões da permanência dos mesmos naquele local e os motivos do choro. Ficou admiradíssimo ao ter conhecimento de que as mães dos meninos, sabedoras de que os mesmo não poderiam ter acesso ao recinto, determinaram a sua permanência ali, enquanto elas (as mães) entraram no salão e principiaram “a se esbaldar”. O comissário conduziu para o interior do baile dos garotos, pedindo-lhes que demonstrassem as respectivas progenitoras, o que foi feito. Viu-se o agente de menores na obrigação de “passar um sabão” nas duas mulheres, intimando-as a deixar imediatamente o recin

O que “Ike” deveria ser (20 de fevereiro de 1960)

A não ser que o cidadão morra de amores por uma conhecida política exótica de fundo vermelho, para ostentar o “vírus” do anti-americanismo, acreditamos que, todo e qualquer pessoa, desde que dotada do suficiente senso de neutralidade e razão, e, por naturalidade, amiga dos norte-americanos. Amiga e admiradora, porque se trata, em verdade, de um povo merecedor dêsses predicados. De nossa parte, tendo convivido com os “yankees” durante um ano inteiro, conhecendo “de visu” o espírito de organização e o trabalho sem preguiça dêsse povo, sua “verve” inconfundível e o inequívoco manuseio daquilo que chamamos democracia, somos, como não poderia deixar de ser, admiradores e amigos dessa gente. Iremos receber no Brasil, como hóspede oficial do Govêrno nacional, a honrosa visita do presidente Eisenhower, chamado pelos americanos apenas por “Ike”, assim como nós chamamos o Sr. Kubitschek por JK. Acontece que existe uma pequena diferença, pois o “Ike” dos americanos significa alguma coisa de

Salada de Notícias (19 de fevereiro de 1960)

Pelo que sabe, nada menos do que sete clubes realizarão bailes carnavalescos em Marília. São êles: Marília Tênis Clube, Esporte Clube Mariliense, Kai-Kan, Legião Negra do Brasil, Yara Club de Marília, “Boite” Vogue e Associação dos Alfaiates. --:-- A pedido do govêrno guatemalteco, o Instituto Butantan enviou para aquele país, por via aérea, uma vultosa partida de vacinas de sôro anti-ofídico. O sôro destina-se a auxiliar no combate as mordidas de cobras, que afluem em grande número em consequência das enchentes que assolaram a Guatemala. O Instituto Butantan é o único centro cientifico no mundo que prepara tais medicamentos preventivos, e porisso é sempre solicitado por inúmeros países. --:-- Aguardam os marilienses, com regular interêsse, os resultados dos conchavos que serão mantidos entre uma comissão de edis locais e a alta administração da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, com respeito ao até aqui insolúvel problema das passagens de nível da citada ferrovia. --:--

Não está legalizada a mudança para Brasília (18 de fevereiro de 1960)

A transferência da Capital do país para Brasília não está legalizada. Dest’arte, a lei que ordenou a mudança do Poder Federal para a “cidade à jacto” pode ser desobedecida! Não somos nós, simples leigos em matéria de direito, que o afirmamos; e nem tão-pouco os que estamos “levantando a lebre”. Quem fez essa taxativa revelação foi um ilustre catedrático de direito, o professor José Ferreira de Souza. Em entrevista à imprensa carioca, assim se manifestou o insigne catedrático: “Uma Capital não se constrói apenas porque se demarcou a respectiva área, nem se habita porque o legislador o quis, batizando-a como tal. Nessas condições, se a lei ordena a mudança para um lugar qualquer, sem a delimitação territorial, sem estar juridicamente organizada como Distrito Federal e sem as mínimas condições de habitabilidade e de funcionamento dos serviços públicos, ela não pode ser obedecida”. Repetimos sem qualquer pejo, que nada entendemos de direito. Todavia, estamos impregnado de clareza a

Pingos e respingos esportivos (17 de fevereiro de 1960)

Augusto Efigênio é o nome do novo técnico sambentista, contratado em substituição ao sr Antônio Lourenço, que já pouco demitiu-se do clube. --:-- Domingo passado o São Bento ganhou mais uma experiência em sua vida: jogou sobre um “gramado” de saibro! --:-- Jogou uma excelente partida de futebol domingo em São Paulo, o arqueiro suplente sambentista, Zeca. Se o rapaz continuar assim e não “mascarar” contará o alvi-rubro com mais um esplêndido goleiro. --:-- Domingo passado, frente ao Estrela de Saúde, o extraordinário médio Bassú completou a sua 48ª partida ininterrupta defendendo a camiseta número seis do São Bento. Domingo vindouro, frente ao Bragantino jogará pela 49ª vez e para o prélio frente ao Batatais, no dia 28 vindouro, completará meia centena de jogos sem interrupção no plantel sambentista. Não merece um prêmio êsse jogador? --:-- Waltinho, meia esquerda sambentista, dentro de sua natural modéstia, não se vexou em confessar à reportagem que só veio a conhecer

O Carnaval vem aí (17 de fevereiro de 1960)

Aproxima-se os dias dos folguedos de Mômo. Vem aí, o tríduo carnavalesco. Tríduo quatro dias, é verdade. Clubes e associações especificas, preparam-se covenientemente, para proporcionar aos seus filiados, o lazer próprio desses festejos populares. Particularmente, gentes a guardam com ansiedade a chegada dessas folias. Apesar do elevado custo de vida, muitos darão um jeito de dispor o suficiente dinheiro para “brincar” o carnaval. De nossa parte, gostamos de apreciar os que se divertem nessa época, encarando os folguedos carnavalescos como um motivo de diversão geral. Espontânea, franca, moderada e bem intencionada. Achamos justa essa oportunidade das gentes se divertirem. Principalmente entre nós, onde o brasileiro trabalha no duro, ano inteiro, necessitando, por isso mesmo, um ensejo para arejamento do espírito cansado. Gostamos, assim, do carnaval inocente, o carnaval carnaval. O motivo de alegria em sí. As brincadeiras sadias e comedidas. Honestas, para sermos mais clar

A desbriada corrida altista (13 de fevereiro de 1960)

Inegavelmente, o assunto encerra uma equação indeterminável, a desafiar a argúcia dos govêrnos e a capacidade de seus auxiliares mais diretos. Assunto insolúvel, questão de trabalho ou motivo de vergonha? Não será, por outro lado, uma urgência daquilo que se enquadra claramente na exigência de um maior patriotismo? Parece-nos que nos falta um pulso mais firme, uma orientação mais sadia, mais direta e mais efetiva. Ou um plano de ação (com licença do sr. Carvalho Pinto) mais equânime, mais racional, irradiado em todos os setores. Êsse negócio de amparar de maneira direta e decisiva a indústria automobilística, deixando ao sabor da própria sorte os demais ramos manufatureiros, é o mesmo que trancar bem a porta da frente de uma casa, deixando aberta a porta dos fundos. Um contra-senso, vamos ver mais claros. A questão de Brasília é outro “nó górdio”. Pelo menos, no entender de muitos. De nossa parte, repetimos mais uma vez, não somos contra Brasília e sim aversos ao sistema alucinad

Monstruosidade originada do Diabo (12 de fevereiro de 1960)

De fato, o epígrafe dêste artiguete não poderia ser outro, embora rude, medonho e algo tétrico. Possivelmente tenha sido um motivo a maior, para que o leitor amigo se detenha com mais interêsse em sua leitura. Referimo-nos à guerra química, essa irretorquível monstruosidade verdadeiramente originada do diabo. Na última grande Guerra Mundial, da qual o Brasil tomou parte, tendo enviado à Itália vinte e cinco mil soldados, apesar dos preparativos existentes nesse particular, não houve, graças aos céus, necessidade ou urgência de emprego dêsse horripilante processo de matanças humanas. Isto face à rendição incondicional das forças do “eixo”, constituídas pelo Japão, Alemanha e Itália. Muitos “pracinhas” e oficiais da Força Expedicionária Brasileira, sabem, por ciência própria, embora de maneira relativa, o quão monstruoso é o processo de guerra química. Verdadeira obra de Satanaz. Coisa incrível de efeitos, inenarráveis e de extensões imprevisíveis. Capaz de extinguir, em poucos min

Escrever, ler e interpretar (11 de fevereiro de 1960)

Inda ontem “batíamos papo” com um velho companheiro que, por muito tempo, mantendo uma secção periódica, foi colaborador dêsse jornal. No vai-e-vem da conversa espontânea, essa conversa que toma diversos rumos, mudando facilmente de rota, veio a baila a questão de nossa incumbência como “rabiscadores” de jornal provinciano. No ensejo, indagamos dêsse amigo o porque da “aposentadoria” de sua pena. O rapaz alegou falta de tempo, atribulações de serviço e uma série de outras coisas, perfeitamente justificáveis. Dizia-nos êsse antigo colaborador, que, a par da verdadeira “cachaça” que identifica o jornalismo, para aqueles que escrevem por convicção e por prazer, a profissão possui as suas eivas de espinhos, sendo a sua análise mais difícil do que se pode prever assim de chofre, maximé pelo leigo. E justificou: - Veja você, como nem todo o mundo sabe ler ou interpretar o que o jornalista escreve. Tenho notado que muitos artigos, muitas vezes encerrando em seu conteudo assuntos de su

Fragmentos de Notícias (10 de fevereiro de 1960)

Amanhã, quinta feira (11/2/1960) , deverá reunir-se a edilidade mariliense. Esperam muitos e especialmente os preocupados com a constituição da Comissão Municipal de Arte e Cultura, que os vereadores consigam apreciar e votar o projeto de autoria do sr. Sebastião Mônaco, que dispõe sôbre a criação do referido e útil organismo. A respeito, sabe-se que um outro projeto de lei, vasado em teor diferente, porém consubstanciado à fim análogo, está sendo “cozinhado” para ser submetido à Câmara. Êsse segundo projeto, dizem, se não for dada última forma, ao invés de auxiliar, virá prejudicar o anterior! --:-- Pelo que pudemos perceber, existe na Câmara, intenções totais e por intermédio de todas as bancadas com assento na edilidade mariliense, em prestigiar incondicionalmente as ações do atual Prefeito, facilitando ao Chefe do Executivo, o máximo possível. Isto é, oferecendo, “de bandeja”, todos os meios, recursos e possibilidades. Haverá, pelo que deduz, harmonia entre os dois Poderes

Incoerência (6 de fevereiro de 1960)

Por qualquer motivo, o rapaz precisou viajar para São Paulo. Comprou passagem para o chamado trem de luxo, acomodou-se na poltrona, deixando o barco, isto é, o trem correr. Fazia um calor infernal. A certa altura do percurso, o rapaz despiu o paletó. Ficou, por conseguinte, em mangas de camisa como se diz vulgarmente. Camisa de mangas compridas, colarinho fechado e gravata amarrada ao pescoço. Aí surgiu o desapontamento: o funcionário da estrada avisou: “não é permitido viajar sem paletó”. O rapaz ponderou que diversas outras pessoas se encontravam sem paletó naquele mesmo carro. O ferroviário justificou: “com camisa esporte é permitido, mas camisa de colarinho, não”. Acatador de ordens, respeitador de regulamentos, o rapaz tornou a vestir o paletó, mesmo com o calor sufocante. Enquanto isso, seu vizinho estava sem dita peça vestuária, isto é, sem o paletó. Então o viajante improvisado pensou: estará menos vestido ou mais indecentemente vestido aquele que se apresenta com uma cam

Um problema cruciante (5 de fevereiro de 1960)

Por certo, muitos leitores deverão recordar que no passado, mais do que uma vez, dissemos através desta coluna, que somos partidário de tudo o que diga respeito a escolas, inclusive as escolas de samba. E somos mesmo. Sempre que o ensejo se nos dá vasa, gostamos de focalizar alguma coisa com respeito ao problema escolar, no Brasil tão desgraçadamente mal cumprido ou incompleto, deficiente em alguns pontos, espezinhado em outros, mercadejado em outros. O ensino no Brasil, queiram ou não os mestres e os entendidos e “estudiosos” na questão, continua a ser um autentico “calcanhar de Aquiles”. Continua a ser uma barafunda, um problema insolúvel, difícil, um verdadeiro “bicho de séte cabeças”. Na zona rural, além de deficientes, distantes, mal localizadas, mal distribuídas, as classes dos cursos primários, são incompletas, pois não apresentam nem os quartos e nem os quintos anos. Nas zonas urbanas, mesmo nas grandes cidades e nas grandes Capitais, o vergonhoso problema das faltas de