Monstruosidade originada do Diabo (12 de fevereiro de 1960)



De fato, o epígrafe dêste artiguete não poderia ser outro, embora rude, medonho e algo tétrico. Possivelmente tenha sido um motivo a maior, para que o leitor amigo se detenha com mais interêsse em sua leitura. Referimo-nos à guerra química, essa irretorquível monstruosidade verdadeiramente originada do diabo.

Na última grande Guerra Mundial, da qual o Brasil tomou parte, tendo enviado à Itália vinte e cinco mil soldados, apesar dos preparativos existentes nesse particular, não houve, graças aos céus, necessidade ou urgência de emprego dêsse horripilante processo de matanças humanas. Isto face à rendição incondicional das forças do “eixo”, constituídas pelo Japão, Alemanha e Itália.

Muitos “pracinhas” e oficiais da Força Expedicionária Brasileira, sabem, por ciência própria, embora de maneira relativa, o quão monstruoso é o processo de guerra química. Verdadeira obra de Satanaz. Coisa incrível de efeitos, inenarráveis e de extensões imprevisíveis. Capaz de extinguir, em poucos minutos, populações inteiras, arrasando as gentes (homens, mulheres e crianças) e inutilizando os que não mata!

Recordamo-nos o fato de que, antes de os brasileiros entrarem em combate ao norte de Pisa, recebendo o “batismo de fogo”, recebemos uma série de instruções sôbre o perigo da guerra química, uso de máscaras, etc., bem como nos foram explanados incontáveis exemplos dos efeitos desse diabólico engenho de guerra. Efeitos e causas verdadeiramente inacreditáveis, alguns dos quais sem o mínimo meio cientifico de resguardo ou proteção, pois a própria ciência dos homens ainda está impotente nesse particular. Foram citados, nessas preleções, variadas consequências advindas como resultado de possíveis ataques com o processo da guerra química; a primeira foi a morte inexorável, angustiante, sufocante, medonha; outras, a loucura, a epilepsia incurável e diversa da comum, o desespero, chagas abrindo-se por todo o corpo e uma infinidade mais de resultados inacreditáveis. No ensejo, foi também apresentada uma exposição com detalhes de um engenho na ocasião em poder das forças alemãs, também de guerra química, que consistia no seguinte: após a explosão de um certo tipo de granada lançada por canhão, o obuz expendia átomos de um estranho poder mortífero, que, qual invisíveis braza, menor do que a ponta de uma agulha, penetrava em carnes vivas (humanas ou não), sem que naquela altura, tivesse sido encontrada uma fórmula qualquer para salvaguardar as vidas. Êsse engenho penetrava por sôbre quaisquer tipos de vestimentas, inclusive as de amianto, atingindo as carnes e causando mortes horríveis a homens e animais!

Daí, sem dúvida, a razão da epígrafe que encima êste artigo.

Isto nos ocorreu, ao lermos uma notícia telegráfica procedente de Washington, dando conta de que um senador democrata do Estado do Colorado (Byron L. Johnson), ter declarado, na Câmara dos Representantes, durante uma discussão sôbre a guerra química, que “as reservas de gás dos Estados Unidos são suficientes para matar todos os homens, mulheres e crianças do mundo”.

Não há dúvida também de que tal afirmativa chega a constituir-se numa réplica ao declarado há pouco pela Rússia, de que esta estaria em condições de destruir, a qualquer distância, qualquer país do mundo, com a utilização de poderosos engenhos teleguiados.

Se é verdade que a civilização progrediu, avançou, que os homens avantajaram seus conhecimentos e espírito de compreensão, o que significa isso tudo? Nada mais do que uma loucura da própria humanidade, que, a continuar assim, poderá exterminar-se tôda!

Extraído do Correio de Marília de 12 de fevereiro de 1960

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