“Santo de Casa...” (25 de fevereiro de 1960)



Dito jocoso êsse, que afirma que “Santo de casa não faz milagre”. Sua comparação grotesca, em sentido figurado, atesta uma verdade insofismável: certo descuido ou indiferença, algumas vezes até descrédito pelo que nos pertence, para ver consignada uma preferência direta pelo alheio. Mesmo que tenhamos entre nós, em melhor condição, justamente aquilo que buscamos fora.

Em outras palavras e em outro brocardo: “a galinha do vizinho é sempre mais gorda”.

Ocorreu-nos essa idéia, após uma palestra que mantivemos ainda ontem (24/2/1960), com o professor Milton Póvoas, acêrca das solenidades de formatura da terceira turma de bacharéis em economia, da Faculdade de Ciências Econômicas de Marília. Ao indagarmos do ilustre mestre, sôbre a cifra de matrículas daquele estabelecimento de ensino superior para o ano letivo em curso, ficamos sabendo que a preferência pelo citado curso, acentua-se em índice de projeção, por alunos provindos de outras plagas.

Isto é, a maior porcentagem de acadêmicos da Faculdade de Ciências Econômicas é de fora. Cidades da noroeste, da velha paulista, da velha e nova sorocabana, mesmo procedentes de centros onde existem estabelecimentos congêneres, frequentam hoje a Faculdade da Avenida Sampaio Vidal.

Enquanto isso, afiançava-nos êsse nosso amigo, dezenas e dezenas de marilienses, alçam asas anualmente de nossa cidade, para cursar ciências econômicas e filosofia em outros centros.

Sabem os leitores ao que se pode atribuir êsse “fenômeno”? Aquilo que se pode chamar de falta de “bairrismo”. “Bairrismo”, esclareçamos, não no sentido simplista de caráter pejorativo, mas, sobretudo, envolvente de uma camada de amor pelo que é nosso, de nossa gente e de nossa cidade, que bem poderá ser chamado de “patriotismo mariliense”.

Essa é a verdade.

Estranhável é o fato de alguns pais de família enviar os filhos a outras cidades, com o fito exclusivo de cursar ciências econômicas ou filosofia, quando possuímos aqui mesmo, dias excelentes escolas de tais especialidades. E além do mais, perfeitamente legalizadas, condignamente fiscalizadas e ostentadoras de competentíssimos corpos docentes.

Enquanto marilienses rumam para faculdades análogas em outras “urbes”, gentes de outras paragens afluem a Marília, prestigiando, dando valor e haurindo as luzes da ciência aqui entre nós. E, automaticamente, transportando a grandeza de nossa terra e a beleza de nosso nome lá fora.

Pode-se dizer que tal fato representa uma contingência perfeitamente normal, irretorquivelmente natural. Convenhamos que sim, contra-afirmando que nem sempre possa ser plausível a mudança de quem aqui reside com seus familiares, sòmente para cursar em outros centros, exatamente aquilo que aqui possuímos, maximé com a comprovada condição de bom e completo.

Estaremos errados? Absolutamente. Errados estarão, sem sombra de dúvidas, os que alçando asas de nossa “urbe”, vão bater às portas de outras faculdades, menosprezando aquilo que possuímos.

Daí o afirmarmos que se nos urge dose maior de “bairrismo”, esse “bairrismo” sadio, normal, lógico, que traduz antes e acima de tudo, o amor à terra.

Bom seria que os estudantes e os pais dêstes procurassem analisar atentamente, as afirmativas que aqui estão contidas.

Extraído do Correio de Marília de 25 de fevereiro de 1960

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