Postagens

Mostrando postagens de março, 2012

TIPOS & COISAS & CASOS (3)

A cidade, pequena. Varjão da Purunga, seu nome. São Benedito, seu padroeiro. O pároco, Padre Bartolo. O delegado de polícia, o prefeito, os dois únicos médicos, quiçá as pessoas mais importantes e representativas de Varjão da Purunga. Peraí... havia uma pessoa outra, muito importante, muito famosa, muito conhecida. A Mariona costureira. Mariona, porque era bem gorda, embora sem excesso e porque era de porte físico grande. Chamava-se Maria de Lourdes Arruda Leite, mas não gostava que a chamassem pelo nome de registro e de batistério. Preferia ser chamada simplesmente de Mariona. Uma espécie de trauma, Mariona trazia consigo desde os tempos de grupo escolar. Menina, era a maior de todos, alunas e alunos. Havia também o Diogo, um espanholzinho do chifre furado. Ele era a pedrinha no sapato da menina. Tudo porque um dia Diogo inventou na hora do recreio um cantarola de gozação, com a seguinte estrofe: “Maria de Lourdes / Arruda Leite / sarro de pito com azeite...” A

TIPOS & COISAS & CASOS (2)

Não era bem um arraial. Nem uma grande propriedade agrícola e muito menos uma bonita fazenda. Era, sim, uma área consideravelmente grande. Representada por inúmeros pequenos sítios, todos eles pertencentes a imigrantes europeus e seus descendentes. Só um sitinho não pertencia a portugueses, espanhóis ou italianos. Era de um japonês, o Nagagawa. O nipônico, para não fugir à regra, éra horticultor. Três vezes por semana, lotava a carroça puxada pelo burro “Ginko”, com legumes e frutas e ia vender na cidade, distante duas léguas dalí. Os sitiantes constituíam uma pequena e bem unida comunidade. Todos se conheciam, se respeitavam e estimavam. Um descendente de italianos, rapaz aloirado, alto e de olhos bem azuis, era sem dúvida o mais popular de toda aquela coletividade. As moças, especialmente as casadoiras, o achavam um verdadeiro “pão”. Os homens gostavam dele e muitos rapazes o invejavam. Apesar de filho de italianos, ninguém sabe por qual carga d’água o jovem fôra registrado

TIPOS & COISAS & CASOS (1)

Ele era o tipo de homem que póde ser considerado “pau para toda óbra”. Ou o homem dos “séte instrumentos”. Os homens gostavam dele porque era um amigo sincero e uma pessoa capaz de auxiliar ou prestigiar quem merecesse, quando o precisasse. As mulheres achavam que ele era muito “despachado” – maneira de identificar uma pessoa prestativa, eficiente e solícita. Seu nome era Fulgencio, mas era conhecido pela alcunha de Fulô. Fulô sabia como ninguém, domar um animal. Laçava como poucos. Entendia tudo sobre lavoura. Sabia benzer bicheiras de animais. Castrava porcos e bois com maestria. Era exímio em fazer canzís para as cangas dos carros-de-bois. Bom pescador, conhecia os melhores poços do rio e sabia fisgar bem e retirar melhor um bonito pintado ou dourado, por maior que fosse. Tinha um casamento, lá ia o Fulô matar a novilha, tirar o couro, esquartejar, desossar, temperar e assar aquele churrasco, que os presentes e comensais, unanimes, elogiavam sem medidas. Sabia benzer

TEM GENTE QUE PENSA

Tem gente que pensa. Que usa a cabeça. Mesmo porque, cabeça não foi feita só para usar chapéu; nem para um penteado; e nem apenas para separar as orelhas... Há criaturas que pensam no Brasil. Verdade. Há pessoas que pensam na Pátria. Verdade também. Aqueles soldados do nosso Exército, aqueles “pracinhas” que constituíram a gloriosa Fôrça Expedicionária Brasileira, que lutaram na Europa, nas íngremes montanhas do classicismo italiano, na defesa dos postulados da democracia e da liberdade, também pensam. Pensam, decepcionados até. Teria valido a pena, tanto sacrifício? Para ver e sentir hoje o Brasil atual? Um país de corrupções, corruptores e corruptos? Um Brasil de canalhices, de abusos, de frustações, de relativas imunidades? Imprensa noticía incessantemente. São descasos, são abusos, são falcatruas, são invasões, são roubos e furtos. “Marmeladas” levadas à quinta potência. Punições? O que é isso? Existem? Desse rosário imenso de bandidos de colarinho e gravata, locupl

NOSTÁLGICO APÊNDICE

“Li alhures...” Significa isso, o mesmo que dizer: li em algum lugar, não se há quanto tempo, nem me lembro onde... Se eu iniciasse este escrito, com tal expressão, poderia parecer meio poético, meio bonito, até meio culto. Mas não seria. Seria, isto sim, meio pedante, meio besta até. Mas ocorre que eu li alhures: “O repórter é o único sujeito que tem o direito de meter o nariz onde não é chamado”. Por isso, aqui minha presença. Transcorria o ano de 1945. Plena guerra mundial acontecendo. “Pracinha” no Exército Brasileiro, integrando a FEB, lutando na Itália. Meu mano Alcindo cursava o último ano de contador, na Academia de Comércio, a saudosa e chamada “Escola do Póvoas”. O “Correio de Marília”, o primeiro jornal da cidade, também o primeiro da Alta Paulista, já havia pisado a marca de 17 anos de vida, dedicada aos marilienses e à cidade na qual nasceu. Luiz Franceschini, jornalista forjado no trabalho árduo e difícil que as circunstâncias do momento dispunham e ex