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Mostrando postagens de junho, 2012

TIPOS & COISAS E CASOS (16)

Era região nova, em desbravamento. Carente de recursos. Faltava de tudo, pois era apenas um clarão aberto na mata virgem. Alí, uma dezena de famílias, não mais. Todas provindas do sul, para tentar a sorte no novo Eldorado, a nova Terra da Promissão. Choças de pau-a-pique, ou barrote, como se dizia na ocasião. Cobertas com sapé. Água, de um riacho próximo. Luz de candeeiro à querosene. Criação, no começo, nenhuma. Com o passar do tempo, as famílias mais providentes, foram construindo pequenas hortas. O percurso até o patrimônio mais próximo era longo, coisa de umas três léguas, ou 18 quilômetros. Mesmo assim, sabiam aquelas famílias que o negócio oferecia perspectivas de futuro. As terras foram cedidas por lei estadual, para usufruto completo. Sem financiamento, mas com garantia e quem permanecesse alí por dez anos consecutivos, receberia documento de posse definitiva, com base em lei de usucapião. A fórmula era plantar o que comer primeiro e em seguida cuidar da lavoura c

TIPOS & COISAS E CASOS (15)

Verdade. Antigamente, ou no entranho – como diziam nossos avós – tudo era diferente. Até os animais falavam. Sim, os animais falavam. Seo Porfiro tinha uma fazendola, que herdara do sogro, um bom lusitano, que além de deixar-lhe toda a propriedade e um montão de dinheiro, legara-lhe a Beatriz, filha única, uma portuguesa de Traz os Montes, muito bonita e prendada. Porfiro e Beatriz eram casados já mais de 8 anos, mas não tinham nenhum filho e esse fenômeno preocupava muito ao Porfiro que sentia o arrepio de medo do futuro, quando ele e a mulher viesse a falecer, sem ter um herdeiro legítimo, para legar-lhe os bens. Por essa razão, Porfiro e Beatriz resolveram adotar um filho e a feliz escolha recaiu sobre um garotinho que eles mandaram buscar numa cidadezinha no interior de Minas Gerais. O garoto não sabia que era ilegítimo, pois, além de ter sido registrado com o nome original dos pais adotivos, ninguém lhe contara e nem contaria nada. O bastardo estava já com cerca de 18

TIPOS & COISAS E CASOS (14)

A vidinha por alí era sempre a mesma. Apesar de monótona não era cansativa. Pelo contrário, seus acontecimentos corriqueiros eram sempre aguardados com ansiedade. Especialmente aos sábados, pois naquela ocasião na lavoura, com exceção das épocas das colheitas, todos trabalhavam na roça até a hora do almoço. Depois só retornariam ao labor agrícola na manhã da segunda-feira seguinte. Às tardes, os encontros de conhecidos e amigos eram inevitáveis no armazém do João Português. O campo de bocha ficava lotado e precisava até esperar na fila, para conseguir jogar uma boa partida ou participar de um “bate-fundo”. O campo era sombreado por duas fileiras laterais de bonitos bambuzais e os bancos de madeira, fixos ao longo dos dois lados da pista de jogo, constituíam excelente convite para um descanso e longos bate-papos. O João Português tinha dois filhos, que ajudavam no balcão e faziam as vezes de garçons. Para não fugir à regra, um dos garotos se chamava Joaquim e o outro, Manu

TIPOS & COISAS E CASOS (13)

Tudo estava calmo na fazenda de Anizio Figueira. Éra um sábado à tarde. Os colonos haviam ido à cidade, para as compras do mês. Férias escolares e os filhos do fazendeiro, os três – Mirela, Edson e Álvaro, de 17, 14 e 12 anos, respectivamente – juntamente com a mãe, estavam no litoral, num apartamento de praia que Anizio havia comprado um ano antes. De manhã o fazendeiro havia percorrido a plantação de um talhão de grão de bico. Era uma experiência e a primeira vez que plantava tal tipo de grão. Depois deu uma olhada no mangueirão e observou os porcos de engordo. Chegou em casa, guardou o jipe, lavou o rosto, tomou uma talagada de uma pinga especial, que seu compadre Osias lhe havia enviado de Pernambuco e ficou aguardando a hora do almoço. Lá de dentro, ouviu a voz de Marieta, antiga e fiel empregada e eximia cozinheira: - Seu Anizio, u armôço tá pronto... quando quizé cumé é só avisá... Ele olhou para o horizonte, a vista alcançava uma faixa distinta, que avançava mor