Coisas que são coisas (5 de julho de 1973)


Quem, há cêrca de vinte e oito anos passados, em Marília chegou, sem a cidade conhecer, “com uma mão atraz e outra na frente”, aqui radicando-se aqui casando-se e constituindo família, conseguindo arregimentar um ról imenso de amizades, deve, forçosamente, de gostar e amar Marília.

Assim sou eu.

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Chegou à redação. Um tanto atrasado. Talvez por causa do friozinho destes últimos dias. Ou quiçá pelo fato do gerente-amigo Anselmo (Scarano), não ter chamado minha atenção.

Deparo, sobre minha mesa, um livro: “Educação Brasileira Temas e Problemas”. Autoria, professor-doutor José Antonio Tobias. Com uma dedicatória pessoal, que muito me desvaneceu. Muito agradecido, ilustre mestre, lídimo orgulho do magistério superior de nossa cidade.

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Velho mariliense, conceituado comerciante, que há mais de 20 anos conheço. Confessou-me, de maneira franca, que até me confundiu:

- Pôxa, leio sua coluna diariamente, sou seu fã, conheço você pessoalmente... mas não sabia que era de sua autoria, a secção “De Antena e Binoculo”!

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Comerciante outro, dizendo-me outro dia, que no passado teve até ímpetos de agredir-me. Foi além, afirmando-me, que se não fôra minha habilidade de trabalho, como Comissário de Menores, ele hoje não seria um homem integrado à sociedade, casado, chefe de família e trabalhador. Confessou, perante outros amigos que de minha orientação e conselhos, havia conseguido sair dos caminhos do erro da juventude, para enveredar pela senda do bem e (não) do mal.

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Ano passado, permaneci uma regular temporada em Maceió, capital alagoana. Executando serviços especiais e de confiança, por solicitação de alto funcionário do Ministério da Educação e Cultura.

Recebo, agora, telefonema interurbano de Brasília, com novo convite: para leva à cabo, análogas atribuições, desta vez na Capital Federal.

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Funcionário municipal, em palestra casual, outra noite, rememorava fase difícil de sua vida: trabalhando durante o dia, com salario de fome, auxiliando no sustento do lar, pretendia desistir de estudar à noite. Durante anos, persisti em conselhos para que não parasse o curso noturno, para que fosse até o final. Fê-lo. Como disse, fês questão de afirmar que em parte, o estímulo recebido fôra o moral, através de minha humilde pessoa. E mais, que estava agradecido e reconhecido.

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Estudantes de vários cursos, vez por outra, procuram-me, pedindo uma “demão”, para alguns temas ou trabalhos escolares. Se posso, atendo. O simples “muito obrigado” que recebo, representa para mim, muitos milhões, porque não há preço que pague a satisfação em servir jovens esperançosos e ambiciosos, quando estes recorrem à confiança dos mais velhos.

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Por designação expressa da alta direção do “Diário de São Paulo”, já tive a oportunidade de atual como “enviado especial” dos “Associados”, nos Estados Unidos, Panamá e México. Para um jornalista provinciano, a honra é muito nobre e elevada.

Não em despeito à Câmara Municipal, mas em consonância nos meus princípios de propósitos, vi-me, no passado, na contingência de recusar a grande honraria, de receber o título de “cidadão mariliense”.

São coisas que coisas são.

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Para quem chegou a Marília, 28 anos passados, “com uma mão atraz e outra na frente”, tudo isso não representa orgulho e não obriga a gente gostar de Marília e dos marilienses? 
 
Extraído do Correio de Marília de 5 de julho de 1973

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