Gosto não se discute (1 de agosto de 1973)
É isso aí.
Já andei por vários pontos
destes brasis. Conheci o Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso,
Rio de Janeiro, Espírito Santo, Guanabara, Bahia, Alagoas, Ceará, Pará,
Amazonas, etc.
Até há pouco, não havia
conhecido a Capital Federal.
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Por mais de duas semanas,
estive em Brasília, recentemente. Em funções de trabalho, percorria diariamente
a cidade.
Meus leitores desculpem: não
gostei de Brasília. Pelo menos para ali residir, não gostei.
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Convém explicar:
Em têrmos de planejamento
arquitetônico, em esquematização urbana, Brasília está excelentemente
equacionada. Em beleza, também.
Não gostei da padronização,
da estandardização.
O objetivo desse
padronizamento urbano, fére os gostos, as metas e as possibilidades dos
brasilienses. Tudo tem que ser cingido ao esquema inicial, é imutável. Brasília
não cresce para o alto, como ocorre com os demais grandes centros do país e do
mundo.
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Setores representam o
protótipo urbano-arquitetônico. A principal Avenida, a W-3, mesmo contando com
duas mãos de direção e três pistas em cada mão, choca as vistas dos
forasteiros. De um lado, parte comercial, em conjuntos harmônicos, como se
foram cópias de carbono, de um único pavimento. De outro lado, residências
igualmente padronizadas, de pavimentos únicos, idênticas, imutáveis e
inalteráveis.
Uma coisa feio-bonita ao
mesmo tempo.
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O sair-se do centro, para
alcançar um bairro residencial, é o mesmo, comparativamente falando, do que
deixar-se Marilia e rumar para Vera Cruz, pelo sólo asfáltico, vendo de ambos
os lados, campos estéreis.
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As quadras residenciais
apresentam um aspecto que não me agradou. Parecem murais retangulares, com uma
aparência, grosseiramente falando, de um cercado de campo de futebol
interiorano. Todas as portas e janelas iguais, ligadas, geminadas, sem siquer
um corredor de entrada de serviço. Nos fundos, tudo análogo: um portão grande,
dando acesso para um pequeno quadrado, que serve ao mesmo tempo de quintal e
garage.
Tudo estandar, idêntico,
padronizado, obedecendo um só e único gosto. Impedindo qualquer mudança de
fachada, pois o processo originário é terminantemente impedindo qualquer
alteração.
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Nos bairros residenciais,
distantes por sinal, não existem muitas das facilidades que temos entre nós
como farmácias, quitandas, pequenos empórios, tinturarias, alfaiatarias, etc..
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Nível de vida muito mais
elevado do que o nosso, por sinal.
Justifica-se a divergência
para maior por questão de preço: encarecimento de transporte e distancia da
fonte de origem, pois a força de tudo o que se consome e utiliza em Marília,
provem inevitavelmente do Estado de São Paulo.
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Não quer dizer isso, que
Brasília deixa de ser uma cidade moderna. Em contrário, é a única cidade
brasileira construída com planejamento prévio.
Ocorre que, para mim, algo
desse esquema poderia sofrer alterações e não sofre. Porisso, pessoalmente, não
gostei de Brasília. Pelo menos para ali residir.
Desculpem-me os leitores essa
lealdade.
Mesmo porque, gosto não se
discute.
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