Candidato Único (12 de setembro de 1973)



Três coisas, que cristão algum do mundo consegue impedir:

1.    A avalanche de água, morro abaixo.
2.    A velocidade e voracidade do fogo, morro acima.
3.    A mulher que quer ser infiel.

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Nada adianta chorar depois que Inês é morta.

Nem botar taramela na porta, depois do roubo da casa.

Nem tentar medir, a água que já passou por baixo da ponte.

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Em reprise:

Num município perto daqui, aproximadamente há uns trinta anos, na entrada da cidade, destacava-se uma grande taboleta. Demonstrava um letreiro rustico, executado à pixe e num afronto ao vernáculo, mais ou menos assim:

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“É prohibido andar armado quem quizer andar armado que deixe a arma em casa para não ser aprehendida pelo ispetor de quarterão e depois não vai dizer ah eu que não sabia”.

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Essa legenda, em terreno completamente diverso, poderá recair sôbre os costados de nossos dirigentes políticos atuais. Pelo menos, os efeitos finais da taboleta.

No que diz respeito ao “ah eu não sabia”!

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Estamos na época da designação e escolha, dos candidatos marilienses, que irão disputar no próximo pleito, uma confortável poltrona de couro vermelho, no Palácio 9 de Julho.

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Nasib Cury foi o primeiro que “levantou a mão” como candidato a candidato. Orlando Mendonça também “levantou a mão”, de modo mais acanhado. Nadyr de Campos também tentou. Octávio Torrecilla também consta que está desejoso de “levantar a mão”. Existe uma corrente, que daria um doce de bom grado, se Oswaldo Doretto Campanari também “levantasse a mão”. Outra, que disporia também de uma boa dose de euforismo, se Octávio Barreto Prado viesse a “levantar a mão” igualmente.

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Verdade, que são apenas balões de ensaio.

Balões de ensaio, cheio de perigo.

Perigo contra Marília.

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Eu continuarei batendo sempre no mesmo prego:

Se Marília partir para a luta eleitoral com mais de um candidato, não vai eleger nenhum.

Afirmo, quase garantindo.

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Com um candidato único, em torno do qual todos os marilienses devem fechar fileiras, não em termos propriamente de nome, mas sim em termos exclusivos e irreversíveis de Marília, poderemos eleger um representante.

Não sendo assim, nada feito.

Inês é morta e a água já passou por baixo da ponte.

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Não se olvide, que muitos marilienses, por simpatia, por represália ou por desamor à terra, irão votar em candidatos alienígenas, em caçadores de votos de outras paragens.

Será a dispersão de votos, comprovada, conhecida, “tradicional” de nossa gente.

Porisso, a necessidade de um candidato único.

Como a mais viável, provável, plausível, lógica e correta de não continuarmos órfãos na Assembléia.

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Pode escrever:

Se Marília “sair” com mais de um candidato, dificilmente elegerá seu representante.

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Depois, não vao dizer, como recomendou o “ispetor” de quarteirão:

- Ah! Eu não sabia!

Extraído do Correio de Marília de 12 de setembro de 1973

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