Estão brincando com fogo (20 de setembro de 1973)


Tem gente e grupos, por aí, brincando com fogo, exagerando na arte de abusar.

Há gente, confundindo o honrado Governo da Revolução, com o malfadado desgoverno de Jango-Brisola, que se constitui em mancha negra da vida brasileira e em móvel da praticabilidade de desmandos e badernas.

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Quiçá o Presidente Médici não saiba, mas estão tentando o desvirtuamento de seu governo sadio e bem intencionado.

Não havendo guarida ou viabilidade de agitação generalizada, da conturbação da vida nacional, está criado um ambiente de apreensão para o cidadão comum, especialmente o chefe de família e o assalariado.

Essa apreensão, decorre da corrida inflacionária dos últimos tempos, assoberbando pesadamente e em especial o trabalhador remunerado com salário fixo.

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O coeficiente inflacionário de até 12%, preconizado e sensatamente previsto pelo Chefe da Nação, de modo geral já foi há muito ultrapassado.

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O comércio de carne, além de outros, está se constituindo num motivo de desassossego geral, com as cotações subindo desenfreadamente.

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Por certo, os técnicos dos organismos incumbidos da pesquisa e observação analítica dos preços dos gêneros de primeira necessidade e de consumo urgente e indispensável, jamais guardaram as notas fiscais de compras, para comparar os preços do mercado, desde janeiro até agosto último.

Eles estão mais por fora do que umbigo de vedete.

Se assim não fôra, a Fundação Getúlio Vargas, não cometeria a insensatez, de divulgar ínfimos dados da elevação do custo de vida, quando em verdade, o povo consumidor, sentindo nas carnes o angustiante problema, desacredita nesses dados e intimamente escarnece dessa autêntica utopia oficial.

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Que me revele o sr. Ministro da Fazenda, pois embora a situação financeira nacional seja aplaudidamente ótima, a vida aqui fora, do brasileiro comum, está assaz difícil. A razão principal dessa dificuldade, cinge-se quase que exclusivamente, aos aumentos de preços, constantes, seguidos, intermitentes, no mais flagrante desrespeito ao apêlo do sr. Presidente Médici e também, em chocante atitude contrária aos interesses gerais dos brasileiros assalariados, os que só percebem um aumento real uma vez por ano.

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Tem gente brincando com fogo.

Tem gente abusando, desorganizando, colaborando ou “torcendo” pela bagunça.

O Senhor Presidente da República precisa ser informado disso.

Precisa que alguém, com a patriótica lealdade de colaboração, lhe faça ver, que os preços, de modo geral, estão subindo quase que diariamente, num sacrifício muito grande para a própria população.

O setor de controle, distribuição, fixação de preços e coibição das elevações absurdas do custo de vida, está muito falho e vem tornando insustentável o viver comum dos trabalhadores assalariados.

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Ninguém por certo, fez chegar ao conhecimento do honrado presidente Médici, a realidade dessa situação.

Se assim fôra, por certo, o preclaro General Emilio Garrastazú Médici, já teria reunido-se com o dr. Delfin, com o presidente da Sunab, teriam tracados enérgicos planos em defesa do povo e teria dito aos abusadores do Brasil: “Basta!”.
 
Extraído do Correio de Marília de 20 de setembro de 1973

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