Carta sem sê-lo (27 de outubro de 1973)



Marília, 27 de outubro de 1973.

Ilustríssimos Senhores:

Luiz Rossi
Lourenço de Almeida Senne
Romildo Raineri
Ruy Avallone Garrido
Abdo Haddad Filho
Nadyr de Campos
Pedro Ortiz da Silva
Luiz Homero Zaninoto
Hideharu Okagawa
Antonio Alcalde Fernandes
Nasib Cury
Octavio Torrecilla
Oswaldo Doretto Campanari
Wilson de Almeida e
Josué Francisco Camarinha

Prezados Senhores,

Permitam-me Vv.Ss., a feitura da presente, que colima enfeixar o intento, de oferecer uma despretensiosa colaboração informativa.

Absorvidos, naturalmente, com os afazeres particulares e pessoais das contendas cotidianas, que os sobrecarregam com o peso do “múnus público” da vereança municipal, é possível e de certa forma plausivelmente lógico, que Vv.Ss. desconheçam, de forma objetiva e franca, o que pensa uma grande parcela de nossa coletividade.


Como jornalista profissional, veterano, ativo e legalmente habilitado e registrado, sou uma célula de uma coletividade. Por temperamento nato de humildade, alinhavado à própria fé de oficio, imiscuo-me, permanentemente, em toda a nossa sociedade, tanto nas altas como médias esferas e também junto àquilo que se convencionou chamar de “zé povinho”. Sou, portanto e forçosamente, um homem do povo. Quiçá, tão importante como Vs.Ss., mas mais homem do povo do que muitos de Vs.Ss.

Além do mais, sou mariliense por adoção e por convicção e tenho um orgulho muito elevado em sê-lo.

Nessas condições, como mariliense autêntico e irreversível e como popularíssimo homem do povo, vivo diuturnamente com esse mesmo povo.

Vv.Ss. não sabem, ou pelo menos não conseguiram atinar e analisar, em toda a profundidade e alcance, a existência de um pensamento muito generalizado e quase total, que se constitui em contundente depreciação e até em escárnio, à quase todos os integrantes de nosso corpo de vereadores. Isso é justificável (que Vv.Ss. ignorem), porque o povo murmura e diz tudo isso “por ai”, mas ninguém tem a ousadia, de afirma-lo “na cara” dos nossos edis.

Se Vv.Ss. procurarem pesquisar, junto à opinião do povo mariliense, por quaisquer formas ou meios que aprouverem, irão, inevitavelmente, dar-me razão e agradecer isto que parece “dedação”, mas que nada mais é do que uma demonstração de lealdade e preocupação, com a própria vida político-sócio-administrativa da cidade.

De minha parte, como mariliense autentico, sinto-me preocupado e de certa forma pejado com o citado estado de coisas. Tendo procurado fazer uma análise honesta e com a mais absoluta isenção de animo, conclui que se o povo que assim pensa, não está totalmente certo, também não está de todo errado.

Cheguei também à conclusão, que o motivo originário, que gerou esse pensamento generalizado que me refiro, não teve seu nascedouro no consenso do povo e sim na sequencia de muitas ações dos próprios trabalhos de nossa Câmara Municipal.

Com esse intento de colaborar e com o informado no presente conteúdo, permito-me, em nome de Marília e dos marilienses, rogar a Vv.Ss., para que despreendam empenhos e intenções, no sentido de metamorfosear o pensamento generalizado de nosso povo. Essa metamorfose, será representada pelas ações de Vv.Ss., na recondução da anterior dignidade da Câmara, que, verdade seja dita, presentemente está apresentando uma cotação de trabalho e operosidade, muitos furos abaixo de sua real grandeza e representação. E, permitam-me também afiançar, esse estado de coisas, não foi o povo que o formou.

Atenciosamente,

José Arnaldo
Jornalista – MTPS 9918

Extraído do Correio de Marília de 27 de outubro de 1973

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