No passado era assim (20 de outubro de 1973)



Este escrito é feito sob encomenda.

Um construtor mariliense, confesso fã aqui do escriba, palestrando outro dia, fêz-me o pedido.

Disse-me ele, que deve ter uns trinta anos de idade mais ou menos, que nada sabe da II Grande Guerra Mundial e que as gerações mais novas, ignoram quase que totalmente, a participação do Brasil nesse conflito.

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Embora reservista de primeira categoria, tendo servido em corpo de tropa do Estado de Mato Grosso, ignorava-se os pracinhas foram todos convocados para a guerra, se eram da ativa ou se foram voluntários.

E pediu-me para que escrevesse, contando de qual maneira os soldados brasileiros foram incorporados à FEB. “Para que outros saibam, porque muitos não sabem” – arrematou.

Vou atendê-lo.

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Na época em que o Presidente Getúlio Vargas e o Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, decretaram a mobilização geral, a prestação do serviço militar era regida por processos diferentes do que agora se verifica.

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O cidadão deveria aguardar, até a idade dos 21 anos, o sorteio militar. Se sorteado, apresentava-se e servia no Exército, durante aproximadamente um ano. Se não fôra sorteado, no ano seguinte requeria à Circunscrição de Recrutamento, o seu certificado militar de terceira categoria.

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Esse sistema, ocasionava um grande transtorno aos jovens, que enquanto não atingissem a idade de 21 anos, não podiam ficar quites com o serviço militar.

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Havia, no entanto, outras duas alternativas legais:

Uma era o Tiro de Guerra (no interior) e a Escola de Instrução Militar (em São Paulo), que fazia as mesmas vezes do tiro de guerra. Muita gente denominava o Tiro de Guerra, como “Linha de Tiro”.

Para solver o compromisso militar, antes dos 21 anos, época dos sorteios, o cidadão tinha a faculdade de “fazer o Tiro”, a partir dos 16 anos, como voluntário. Naquele tempo, a conscrição e a designação para os TGs. não era obrigatória como hoje e geralmente só faziam o Tiro de Guerra, os “filhinhos” de papai e os filhos de gente de certos recursos, porque as despesas corriam todas por conta dos próprios interessados, o que não acontecia servindo o Exército.

Eu mesmo fiz o Tiro de Guerra, com 17 anos.

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A outra alternativa, representará para alguns, um motivo de curiosidade.

É que hoje em dia, para o cidadão ingressar na Polícia Militar, a condição “sine qua non”, é que o mesmo esteja quites com o Exército.

Naquele tempo, há mais de 30 anos passados (antes, portanto, de 1943), o jovem que não quizesse esperar o sorteio militar, ou que não pudesse ou pretendesse fazer o Tiro de Guerra, poderia, atingindo 18 anos, sentar praça na Força Pública do Estado, pelo espaço de dois anos. Findo esse tempo, ao dar baixa, saia com o certificado de reservista de 2ª categoria do Exército!

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Já os estudantes universitários, mesmo antes dos 21 anos, inscreviam-se por conveniência, no Centro Preparatório de Oficiais da Reserva, por um espaço superior a dois anos. Era uma espécie de Tiro de Guerra, com instruções para oficialato e os concluintes eram declarados Aspirantes à Oficial, no final do curso. Faziam obrigatoriamente um estágio de seis meses em corpo de tropa ou em repartições burocráticas e eram a seguir considerados segundos tenentes da reserva.

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O efetivo da Fôrça Expedicionária Brasileira, no que diz respeito aos praças, excluindo os oficiais de carreira e os sargentos engajados, foi formado por três categorias de soldados:

1.    Os sorteados, que se encontravam na ativa, servindo na ocasião.
2.    Os reservistas, que foram convocados para o serviço ativo.
3.    Os insubmissos, em débito com o serviço militar. Estes, os que haviam sido sorteados e não sabiam e que eram “pegos” pelo Exército, quando tentavam requerer a “terceira categoria”.

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Uma outra curiosidade:

A classe estudantil, especialmente os acadêmicos de Direito, do Rio e de São Paulo, foram os que mais impuseram ao Governo, a declaração de guerra e o envio de tropas brasileiras para a campanha da Europa.

Mas a verdade, é que pouquíssimos deles foram lutar. A maioria absoluta “caiu fóra” e o grosso da tropa dos praças da Força Expedicionária Brasileira foi formada por humildes, muitos semi-analfabetos, operários e gente da zona rural!

Extraído do Correio de Marília de 20 de outubro de 1973

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