Porque se não instala a 3ª Vara (25 de outubro de 1973)



Existem dois tipos de inveja: A inveja de respeito puro e admiratório pelo desenvolvimento, capacidade e valor alheio, em comparação com o nosso próprio. E a inveja propriamente dita, a inveja abjeta, de caráter pejorativo e simplista.

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Sempre invejei Bauru, sob o prisma da inveja sadia e respeitosa, sem razões simplistas ou pejorativas. Sempre admirei o seu progresso irrefreável, notadamente durante a última gestão de sua administração municipal, quando Alcides Franciscato regia os destinos da “cidade sem limites”.

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No mesmo lapso-tempo, enquanto Bauru progrediu 10 em 4 anos, nossa querida Marília estacionou, submersa numa modorra lastimável, que os pseudos “bons” marilienses teimam em negar ou em ignorar.

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Bauru consegue tudo o que necessita e aspira, junto às esferas administrativas da União e do Estado.

Marília nada consegue.

Não há nada de previlégio nisso, em pról de Bauru.

E nem de preterição, contra Marília.

O que existe – isso sim – é que os bauruenses empenham-se e trabalham pela sua cidade, enquanto os marilienses cruzam os braços, naquela preguiça que Monteiro Lobato contou do Jeca Tatuzinho, esperando que tudo venha a cair, por obra e graça dos próprios céus.

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Franciscato construiu quase meia dúzia de viadutos em Bauru. Nós tivemos a oportunidade de construir um, apenas um, mas os próprios marilienses, através de seu Poder Legislativo, mandaram às favas essa oportunidade.

Bauru instalou suas regionais administrativas e completou da forma louvável, o aparelhamento das mesmas.

Nós, nada.

Eles trabalharam. Nós, nada.

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No tocante às Varas Judiciárias da Comarca, Bauru tem três em funcionamento e por mais estes dias deverá ser instalada a quarta.

Aqui, temos duas sobrecarregadas de serviços, com o mesmo número de feitos judiciários dos existentes na “cidade sem limites”.

A Terceira Vara de Marília, criada por lei, consta no papel há vários anos. Sua instalação está ainda no tinteiro.

A demora, a delonga, o protelamento dessa instalação, estão debitados aos próprios poderes públicos da cidade, aos dirigentes marilienses.

Bauru tem um Palácio da Justiça, moderno, amplo e funcional.

Nós clamamos pela construção de um novo Forum, que substitua o atual, já obsoleto e acanhado, incapaz de suprir à contento suas funções precípuas e especificas.

Os bauruenses conseguiram tudo isso, porque trabalharam, pediram, rogaram, provaram a contingência das necessidades.

Os marilienses, não.

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Prefeito e Câmara, todo mundo sabe, vivem às turras. Prefeito, como bom descendente de espanhóis, é teimoso mesmo. Mas ninguém nega que seja um homem bem intencionado, trabalhador e zeloso pela coisa pública.

A Câmara, por muitos de seus integrantes, faz mais do que oposição sistemática e continua. Chega a demonstrar, por alguns de seus membros, ser visceralmente aversa até à pessoa física do alcaide.

E com isso, quem está perdendo é a própria cidade.

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Enquanto a Câmara condena o prefeito, enquanto prefeito discute com a Câmara, enquanto os vereadores se preocupam com falsos pedintes, que carinhosamente alcunham de “mendigos”, a cidade vai sendo relegada, seus interesses vão sendo sepultados, terreno vai sendo perdido.

E, dentre outras necessidades, o novo prédio do Fórum se não constrói, a Terceira Vara se não instala.

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É tempo de acabar-se com essas quizilhas inúteis, banais e pueris, cronicamente pessoais, que devem ficar à margem, porque o progresso da cidade, o dinamismo de Marília, a tranquilidade da família mariliense é mais importante e deve sobrepor-se ao vaidosismo, ao oposicionismo, ao dotiloquismo improdutivo de alguns de nossos vereadores.

Que se arregace as mangas, que se pense em Marília, que trabalhe por Marília.

E Marília passará a ser vista pelos Poderes Centrais, com os mesmo bons olhos que Bauru é vista.

Desde que trabalhamos e pela cidade nos interessemos, é lógico.

Extraído do Correio de Marília de 25 de outubro de 1973

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