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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Um cidadão emérito (29 de janeiro de 1977)

Assim que os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, retornando da Itália, chegaram ao Brasil, o então prefeito mariliense, João Neves Camargo, enviou um seu representante ao Rio e São Paulo, com a finalidade de congregar os expedicionários de Marília, para trazê-los em comotiva, a fim de serem recepcionados e homenageados. O delegado do prefeito fora o diretor da Bibliotéca Municipal, professor Basileu de Assis Moraes, que cumpriu integralmente sua missão. --:-- Eu encontrava-me dentre os pracinhas que haviam cumprido seu papel de brasilidade e patriotismo nos campos de luta da Itália. Quando chegamos à gare da Paulista, autoridades e povo alí nos aguardavam. Palmas, alegria, sorrisos, abraços… marcaram o encontro dos pracinhas que regressavam do campo de honra. Incorporados, pracinhas, autoridades e povo, todos, pararam na confluência da Avenida Brasil, com a Rua Paraíba, onde no prédio que ainda hoje é o Bar Kambará, foi inaugurada uma placa, dando

Vocês vão ver… (28 de janeiro de 1977)

Década de 1930. Getúlio Dornelles Vargas no poder. Em sí, o “baixinho” era uma excelente pessoa. Um bom governo. O que estragava era a curriola que o cercava, com Tenentes  Gregórios e outros lugares-tenentes. Considerado o Pai dos Pobres, tinha uma penetração no prestígio popular, até hoje não olvidada pelos antigos trabalhistas. Desde 1954, ano de seu suicídio, até hoje, seu túmulo é visitado por centenas de pessoas na data do seu falecimento, 25 de agosto. --:-- O advento da era da indústria pesada deu-se no governo getulista, com a implantação de Volta Redonda. Dos assalariados de todo o Brasil, muito devem ao ex-Presidente, face à codificação das Leis Trabalhistas, de sua autoria. Também as leis de previdência social, com o funcionamento dos IAPs, hoje Inps. --:-- Verdade que muitas leis foram deturpadas e não cumpridas. O próprio Getúlio encarneceu num discurso feito ao Brasil, numa passagem de ano, com a frase até hoje conhecida de “a lei, ora

Coisas de gasolina (27 de janeiro de 1977)

A racionalização (acho esquisito o termo para o fim aplicado) de gasolina pelo menos já trouxe no mínimo três vantagens: forçou a economia, por um lado. Diminuiu o trânsito intenso, por outro. E desafogou bastante a balburdia de veículos no centro da cidade. --:-- Coisa que não dá bem para entender é a “racionalização” da gasolina, num páreo estranho com os preços dos veículos, cujas cotações continuam subindo. --:-- Gente precisa tirar da cabeça a idéia fixa de que, com o depósito compulsório de dois cruzeiros por litro, o preço da gasolina será de sete pratas. Isto está gerando uma espécie de psicose coletiva e da idéia geral, poderá redundar em detrimento da população ou mais diretamente, da economia popular. --:-- É que já se cogita em subir tudo, sob o pretexto de que a gasolina “custa sete cruzeiros”. É um jogo ruim. Que inclusive deverá despertar e merecer atenções de quem de direito. Por outro lad, tem gente satisfeita, pois tudo o qu

Presente de grego (26 de janeiro de 1977)

Não se trata aqui da repetição histórica, mas sim da lembrança do tragi-comico e caricata episódio que de há séculos caracterizou-se pejorativamente como “presente de grego”. Nem analogia existe, embora, grosseiramente, possa vocar-se a lembrança do gigantesco cavalo grego, com o “bucho” cheio de soldados, que invadiram e dominaram a extinta Tróia. --:-- E desde então, todas as vezes que um aparente bom negócio se traduz numa transação, senão péssima, pelo menos decepcionante ou prejudicial, ou mesmo contundente, ou ainda envernizada pela frustração, é costume dizer-se que tal se constituiu num “presente de grego”. Especialmente se se esperava com ansiedade, um resultado positivo e se alimentava um antigo anelo, que a realidade da frustração veio cavalgada na besta da decepção. --:-- E aconteceu, isto. Aqui em Marília. Com marilienses, sim. --:-- Cecap, vindo de encontro ao desespero de muita gente, anunciou a construção de casas populares. Prefe

Hoje, Dia de São Paulo (25 de janeiro de 1977)

Quatrocentos e vinte e três anos fazem hoje que foi fundada a cidade de São Paulo. Nossa Capital representa um dos mais expressivos, fortes e vivo exemplos da efetividade de ação da catequese, na formação, crescimento e dinamismo das cidades brasileiras. --:-- São Paulo iniciou seu desenvolvimento rodeando uma capela católica, mandada erigir pelo padre jesuita Manoel da Nóbrega, uma colina perdida num oceano verde, onde hoje se situa o Pátio do Colégio. --:-- A primeira vibração de progresso manifestou-se no ano de 1560. Foi quando os habitantes de uma povoação não mui distante transferiram suas residências para junto do colégio dos Jesuitas, instalado ao lado da Capela. --:-- E São Paulo não parou por aí. Através do passar dos anos seu crescimento foi algo lento, de início indeciso, mas sempre potente. O cultivo da lavoura cafeeira, na metade do século passado, é que veio trazer um impulso gigantesco ao Estado de São Paulo e consequentemente fez

Manguinhas de fora (22 de janeiro de 1977)

Começo do ano de 1964. Situação nacional intranquila. Jango e Brisola permitindo que assalariados de Moscou bagunçassem o coreto. Maus brasileiros, sobretudo maus patriotas, exultavam: “comunismo vai entrar”. Vagabundos, mas seguidores da doutrina exótica, preparavam-se para “receber” residências e fazendas daqueles que ganharam-nas com um trabalho suado, fruto de anos de trabalho constante. --:-- Caboclo, ingênuo, ignorante de tudo o que ouvia dizer e que não entendia, conversava com o outro: - Cumpádi, diz-que u tár di cumunismo vem aí. - Dêxa vim, qui nós avacáia êli. E o outro, mais curioso, queria saber o que era mesmo o comunismo que se anunciava que viria e o que representaria afinal. Pergunta ao compadre da cidade, homem que lia jornais, ouvia rádio, assistia televisão e conversava com o farmacêutico e o gerente do banco. E o homem da cidade explicou, então, ao ingênuo matuto: - O senhor me dá a palha de milho, o fumo de corda, o cani

80 quilômetros horários (21 de janeiro de 1977)

Certa feita, não há muito, viajava eu para o sul do país (*) e fiquei com a atenção despertada, por algumas placas sinalizadoras de trânsito, até então não vistas por aqui. No Estado de Santa Catarina e mesmo em certa parte do Rio Grande do Sul, de vez em quando viam-se placas com os dizeres “velocidade controlada por radar”. --:-- De início associei a ideia dos aparelhos de radar, de aeroportos e navios e por razões esta estranhei que não se visse torres específicas, ao longo do trajeto. Nem mesmo nas imediações dos pontos da polícia rodoviária. Fiquei pensando que possivelmente o sistema de radar estivesse em implantação e que se tivesse antecipado, por qualquer razão, a colocação das placas. Isso raciocinei, por entender que tais avisos, de cunho oficial, não poderiam ser “de mentirinha”. --:-- Na ocasião, ainda não havia entrado em vigor o limite de velocidade máxima de 80 quilômetros, tal como ocorre hoje em dia. Apenas que nem todos respeitam essa

Hoje, Dia do Farmacêutico (20 de janeiro de 1977)

Dia destes, palestrava eu com o deputado Doretto Campanari. No trivial da conversa, contei ao oftalmologista, que em criança tivera eu uma indomita e enorme vontade e vocação pela medicina. Mas que, tendo sido criado na lavoura, “no cabo da enxada”, esse anelo tornara-se impossível, acabando por desfalecer. --:-- Eu não tinha condições de atinar com a importância da ciência médica propriamente dita. O que, na minha ingenuidade eu admirava, era o médico em pessoa. Achava-o um ser superior, inteligente, dotado de uma autoridade impressionante, uma criatura sábia, que curava gente. E admirava, então, os dois médicos que existiam na cidadezinha onde morava. E sonhava ser médico também. --:-- Um de meus colegas de grupo escolar era “protegido” de um médico. O esculápio, que não tinha filhos homens, propuzera-se a custear os estudos desse meu colega, o Ari. Para que ele se formasse em medicina, pois o pai, velho sapateiro, não tinha condições de pagar os estudos.

A superstição (19 de janeiro de 1977)

Dizem que a superstição é própria dos ignorantes ou das pessoas de pouca cultura. Não é. A superstição existe em todas as gentes, em maior ou menor escala. Ocorre que é que muitas pessoas tentam ocultar sempre esse sentimento. Mas em cada ser há um resquicio de superstição, isso há. Mesmo negando-o. --:-- Eu era garoto ainda. Vivia numa miséria franciscana, pois tinha todas as despesas de uma pessoa adulta e os rendimentos de um moleque. Pagava a mensalidade escolar com sacrifício ingente, pagava pensão – só comida – e dormia de favor, num quartinho existente no quintal de uma loja de ferragens. Não tinha condições de pagar lavadeira, porisso eu mesmo lavava minha roupa, que estendia numa cerca balaustre, sem torcer, para que pudesse ser usada sem passar. --:-- Foi quando apareceu na cidade, um tal de “Professor Eurico”, profeta e adivinho, um sabe-tudo. O homem respondia consultas sobre as mais variadas e incógnitas perguntas. As respostas eram

Gasolina, o bode expiatório (18 de janeiro de 1977)

Não só o Brasil, mas diversas outras nações do mundo, encontram-se compulsoriamente submissas aos países produtores de petróleo, principalmente a Arabia. Nestes últimos anos, o consumo interno de gasolina entre nós, quadripicou ou quintuplicou. Além do vertiginoso índice de produção automobilística nacional, o sistema de financiamentos destinados a aquisições de veículos, acabou por acarretar expressiva elevação nas cifras representativas do consumo de petróleo. --:-- Nestas condições, o petróleo produzido em território brasileiro e as cotas de importação do referido produto, acabaram por tornar-se insuficientes e deficientes para o consumo interno, onde a demanda é maior do que o armazenamento. --:-- Sem contar-se, ainda, com o volume gigantesco de divisas nacionais, que se carreiam para o exterior, como pagamento das aquisições da maior parte do petróleo que se consome no Brasil. O brasileiro, de modo geral, consome mais petróleo do que leite! --:--

Tem dessas coisas… (15 de janeiro de 1977)

Governo tem suas razões, mas parece que não seria esta a medida exata, para a solução do angustiante problema do petróleo. Quiçá um racionamento bem justo e equanime, pudesse surgir melhores efeitos do que esse empréstimo compulsório, que nada poderá significar para os ricos e poderosos, mas que, por outro lado, além de sacrificar os mais pobres, poderá refletir diretamente contra a maioria, que por razões óbvias, será afetada pelas altas dos sistemas de transportes. Embora o assunto seja de suma importancia e grande responsabilidade, comportaria aquí, a piada do sertanejo, que era obrigado a fazer suas compras no único armazém que existia na região agrícola. Sempre que ele ia adquirir um produto, o comerciante dizia que havia subido, devido a alta da gasolina. E, cansado de ouvir sempre a mesma ladainha, um dia o caboclo “explodiu”: - Eu num tenho tomóve, num tenho lampião à gazulina, num tenho isquêro i num bêbo gazulina… u qui é qui eu tenho cum isso? --:

Sei lá se é… (14 de janeiro de 1977)

Eles têm o direito de viver. E de ganhar seu dinheiro. Pelo menos, assim, estão levando uma vida que se vislumbra como de encaminhamento plausível para um futuro de trabalho. Melhor assim, do que abandonados, vendo maus exemplos e andando em más companhias. Refiro-me aos pequenos engraxates. Mas há um erro ai na imediação do ponto do Expresso de Prata. É a proliferação desses garotinhos, mercadejando suas habilidades. Até aí, nada demais. Ocorre que quem está esperando um parente ou amigo que está para chegar, ou que quem corre atraz do horário de ônibus, não têm tempo e nem está interessado em lustrar os sapatos. E os garotos, aos bandos, insistem. E não percebem, que, estando todos eles junto, se um não conseguiu o trabalho, os outros também não. Mas se estiverem cinco, mesmo todos eles tendo ouvido a recusa do pretenso freguês, os outros quatro, um por vez, insistirão no clássico “quéngraxá?” Sei lá se é… --:-- A gente vai dirigindo pelaí.