80 quilômetros horários (21 de janeiro de 1977)



Certa feita, não há muito, viajava eu para o sul do país (*) e fiquei com a atenção despertada, por algumas placas sinalizadoras de trânsito, até então não vistas por aqui.

No Estado de Santa Catarina e mesmo em certa parte do Rio Grande do Sul, de vez em quando viam-se placas com os dizeres “velocidade controlada por radar”.

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De início associei a ideia dos aparelhos de radar, de aeroportos e navios e por razões esta estranhei que não se visse torres específicas, ao longo do trajeto. Nem mesmo nas imediações dos pontos da polícia rodoviária.

Fiquei pensando que possivelmente o sistema de radar estivesse em implantação e que se tivesse antecipado, por qualquer razão, a colocação das placas. Isso raciocinei, por entender que tais avisos, de cunho oficial, não poderiam ser “de mentirinha”.

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Na ocasião, ainda não havia entrado em vigor o limite de velocidade máxima de 80 quilômetros, tal como ocorre hoje em dia.

Apenas que nem todos respeitam essa delimitação.

Pelo menos muitos caminhões pesados, que pelo motivo de serem lentos nos aclives, tentam uma forma de recuperação de trajeto e tempo, utilizando violentas “banqueladas” nas descidas.

E ocorre que, em declives de grandes extensões, esses veículos pesados devem atingir mais de 100 quilômetros horários.

E os que estiverem respeitando a lei, que tratem de sair para os acontamentos ou senão infringir o dispositivo legal, metendo o pé na tábua, porque, senão, os brutamantos do asfalto passarão por cima deles.

Assim deve ter sido o infausto acontecimento que vitimou o mariliense João Raphael.

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Dia outro, nas proximidades de Jafa, um caminhão Mercedes ameaçava alcançar-me. Eu dirigia dentro dos limites estipulados por lei. E o brutamontes aproximava-se, com o motorista de pé atolado e insistia em pedir passagem, dando sinais de luzes.

O acostamento não permitia que eu saísse da pista certa para permitir a ultrapassagem. E como o brutamontes se aproximava quase batendo na minha velha condução, lembrei-me do caso antes referido e tive que correr, ultrapassando a lei, para evitar que o mercedão me passasse por cima.

Preocupado com o fato, tive tempo de sair da pista, tão logo se me ofereceu condições de acostamento e pude ver o pesado caminhão, placa de Bauru, pertencente a Força e Luz.

O veículo passou em tão alta velocidade que não deu tempo siquer de eu anotar o número da placa, mas consegui ler o nome da cidade da longarina da carroceria e vi de relance o emblema da CPFL.

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Mas não é só esse exemplo. Existem outros.

Quem te dirige de Marília para Assis, dirigindo carro pequeno e respeitando o limite de velocidade legal, tem que sair para o acostamento ou meter o pé na tábua.

Tem uns caminhões basculantes, de determinada firma de engenharia, que correm mais do que o diabo e se os que dirigem carros pequenos não saírem da pista, fatalmente serão esmagados pelos brutamontes carregados de areias ou pedras.

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Mas não é só isso.

Existem carros de empresas oficiais, inclusive com escritos da delimitação das velocidades, que eles próprios não respeitam e “podam” veículos outros, em velocidades além dos limites da lei.

Existem, sim.

(*) José Arnaldo fez uma viagem de caminhão ao sul do Brasil em 1973 e escreveu uma série de sete crônicas sob o título “Viagem aos Pampas”. A publicação, no Correio de Marília, deu-se nas edições de 28 e 30 de novembro, 1, 4, 5, 6 e 7 de dezembro de 1973. Esses textos foram reproduzidos recentemente e estão disponíveis neste blogue.

Extraído do Correio de Marília de 21 de janeiro de 1977

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