Precisamos de uma delegacia da Sunab (10 de março de 1977)



Marília precisa de uma delegacia da Sunab.

Mas a própria Sunab precisa auto-enquadrar-se, para reconquistar sua confiança e funções precípuas, de importante órgão federal.

Ultimamente, a Sunab tem sidop desacreditada perante a opinião pública, por ter cometido pecados, senão omissões, no exercício específico de sua missão: tabelar preços, fiscalizar e fazer cumprir as tabelas cotativas, punindo infratores, quando forem os casos que tais.

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Divulgamos em nossa edição de ontem (9 de março de 1977), parcial tabela de preços de alguns dos mais consumidos produtos de bares e lanchonetes.

É a tabela vigente.

Para todo o Estado de São Paulo.

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Porque, a verdade mesm, é que ninguém protege os consumidores.

Numa comparação grosseira, nem mesmo o Exército ou a Polícia, protegem os consumidores, das garras e das ganas de alguns comerciantes desalmados.

Tem gente que gosta de brincar com fogo.

Tem, também, quem procura fazer disto aqui, uma terra de lagartos, onde o animal mais vivo, mais sagaz e mais rápido, acaba devorando o rabo do mais tolo e mais lerdo.

Tem.

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Dia destes, lá em São Paulo – a Capital que mais cresce no mundo e a cidade onde mais se explora nos preços de mercadorias vendidas a varejo – num bar, na Rua Duque de Caxias, a citada tabela de preços estava afixada em local visível, mas o português de plantão na caixa registradora, fazendo que não via a mesma tabela e cobrando a maior.

Um freguês reclamou. Foi a “pior viagem”. O homem da caixa registradora abriu a boca e deitou cobras e lagartos sobre os costados do cliente, dizendo-lhe que quem mandava no seu estabelecimento era ele e não a Sunab, etc. e tal. E acabou mandando o freguês às favas (mandou, na verdade, para outro lugar).

Eu assisti e quando chegou a minha vez de pagar a consumação, senti que o luso me havia metido a mão no bolso, cobrando-me extra tabela. Mas preferi evitar as xingações que o outro havia ouvido.

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Também dia outro, na Rodoviária em São Paulo, propuz-me a tomar um chopinho gelado, enquanto aguardava a hora do Prata para regressar a Marília.

Entrei no bar, onde se apanha papeleta na entrada e se paga a despensa na saída. Fazia tempo que não adentrava aquele recinto.

Observei que em organização o estalecimento caiu muito do que era no passado. Algumas moças, de saias curtas e exibindo as pernas, atendendo o público, com aparente má vontade.

Tinha gente reclamando, inclusive um cidadão, dizendo que além de tudo alí ser demasiadamente caro, o serviço não satisfazia e as moças, antes de mais nada, já colocavam recepientes na cara do freguês, como a exigir gorjetas.

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Pedi o chope. Quando fui servido, reclamei, pois não estava bem gelado.

Um mocinho, ao meu lado, estava chiando. Era de Curitiba – disse. Pediu um “cheese”. Em Curitiba custava seis cruzeiros e lá lhe haviam cobrado 25!

Pedi um “bauru” e como servem esse sanduiche acompanhado de pequena porção de maionese, disse que dispensava o acompanhamento. A moça informou que o preço era o mesmo, com ou sem a maionese. Respondi que não fazia questão.

O “bauru” de lá, diferente do daqui. La, duas fatias de pão de forma, com uma fatia de presunto e outra de queijo, com duas rodelas de tomate.

Cobraram-me pelo “bauru”, 17 cruzeiros.

Protestei, é claro.

A mocinha que me serviu limitou-se a dizer: “aqui o preço é esse mesmo”… - e voltou-me as costas.

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Lá tem Sunab. Mas a fiscalização é falha, senão, tais casos de explorações e de lucros extraordinários não iriam se verificar.

Por razão esta, que, no início deste artiguete, disse que Marília precisa de uma delegacia da Sunab, mas que fiscalize.

Senão, nada feito.

Por que, em verdade, não se sabe quem protege os consumidores.

Ou alguém sabe?

Extraído do Correio de Marília de 10 de março de 1977

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