A vez das ferrovias (17 de abril de 1974)



O sistema ferroviário do Brasil, passada a sua fase áurea, acontecida há mais de meio século passado, sofreu uma queda perpendicular, de uns trinta anos até esta época.

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Até por volta de 1930, o transporte ferroviário era praticamente o único e o mais eficiente meio que se dispunha.

Para cargas, para encomendas e para passageiros, o volume máximo da preferência das gentes pendia para o sistema ferroviário.

A rigor, constituia-se praticamente no único processo prático e eficiente, embora, de modo geral, apresentasse quase sem solução a insegurança de espaço-tempo e a impontualidade de horários acentuada e expressiva.

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Com o advento das rodovias asfaltadas, cortando o país todo e especialmente os Estados do Sul, enriquecido pela importação e pelo fabrico de caminhões nacionais, favorecido ainda com os sistemas de financiamentos para aquisição de veículos de transporte, as ferrovias passaram a sentir uma boa dose de inferença em suas preferências de até então.

O prestígio, o uso e a utitização das ferrovias decresceu com o passar dos anos.

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Se estatisticas tivessem sido feitas, demonstrando em cifras o índice desse decréscimo de preferências, veríamos um coeficiente assustador, acontecido depois de fins de 1945.

Passaram-se os tempos, carreados de fenômenos imprevisíveis e de circunstâncias multiformes.

Movimentos grevistas, de descaso, de melhor atendimento público, vieram contribuir também para maior descrédito do sistema ferroviário nacional.

Lutas por encampações, política confusionista, agitações entre a classe ferroviária, reclamações por parte do próprio público, quizilias e questões trabalhistas, quiçá até sórdidas sabotagens por parte de estranhos, foram aumentando esse descrédito, proporcionando volumosos déficits, redundando num desprestígio quase coletivo.

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Mas, como formaram-se imprevistos fenômenos de circunstâncias multiformes, estes fatores adicionais à providências administrativas e urgentemente necessárias, resultaram numa reversão de fatores e valores, iniciando-se a recolocação das ferrovias, no mesmo anterior conceito público.

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Essa recondução à sistemática preferencial anterior, ensejou-se com a remodelação de frotas de combios e máquinas, com a modernização de equipamentos, com o nivelamento de técnicas utilizadas pelos países bastante adiantados em transporte e comunicações.

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Chegou, portanto, a vez das ferrovias.

A crise mundial do petróleo, com a agravante de aumento da própria insuficiência, em decorrência da demanda incontrolável da própria consumação, está fazendo com que as vistas voltem a concentrar-se no sistema ferroviário, como elemento útil de valor, para acompanhar e satisfazer as necessidades do transporte geral.

Por outro lado, o avanço da ciência eletrônica e as reservas do potencial energético nacional, irão proporcionar ensejos e meios para que, em futuro bem próximo, o sistema ferroviário do país passe a ocupar seu verdadeiro lugar, ocupando e recuperando sua simpatia e confiança no passado.

É a vez das ferrovias.

Extraído do Correio de Marília de 17 de abril de 1974

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