Lá, como cá… (03 de abril de 1974)



Lá como cá, más fadas há.

É um refrão antigo, que procura, em análise afirmativa, cimentar a tese de que, defeitos, virtudes, vantagens, desvantagens, gente boa, gente ruim, existem em toda a parte.

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Tornou-se muito comum o atribuir-se ao povo norte-americano a condição do inusitadismo, do ineditismo, do esdruxulismo e do impossível.

Em verdade, não é bem isso.

A veracidade dos fatos é bem outra, muito embora nem todos tenham ainda conseguido atinar com toda a profundidade, a extensão do alcance.

A verdade é que os norte-americanos costumam ser muito realistas e muito francos. E, como tal, não ocultam – em contrário, propalam – tudo o que se lhes diz respeito.

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Muita gente lembra que os próprios filmes naturais americanos mostraram, repetidas vezes, todos os fracassos que a própria Nação experimentou, quando das tentativas de lançamentos de seus foguetes espaciais.

Além disso, as agências noticiosas de origem do próprio país davam divulgação completa, total, sem cortes, sem desculpas, com uma lealdade impressionante.

Já o mesmo não sucedia com outras nações, que sempre procuravam ocultar seus insucessos. Com isso, cometiam dois embustes: enganavam-se a si próprias, mentindo às demais.

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Citem-se aqui, fora o acima, dois casos típicos da franqueza dos “yankees”, aos quais eles próprios impregnaram a verve espontânea, no estravazamento do humorismo natural e pessoal.

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Um.

A declaração e o recolhimento do imposto de renda nos Estados Unidos é uma coisa seríssima. A omissão, a sonegação ou o desrespeito à lei dá cadeia no duro.

Consta que um cidadão, tempos após fazer a entrega de sua declaração, recebeu notificação do órgão arrecadador apontando erros de cálculo e convidando-o a recolher mais determinada importância.

O homem atendeu.

Meses depois, novo convite, para novo recolhimento.

Atendeu novamente.

Mais algum tempo, outro convite semelhante: recolher certa diferença.

O homem remeteu o cheque com a diferença solicitada, pelo correio. Juntamente com o cheque, velas, com a seguinte observação:

“Tipo RH ‘O’ positivo, mas noa posso dar mais”.

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Determinado Juíz de Direito de um Condado do Estado da Califórnia, recebeu certa feita um requerimento vasado mais ou menos nos seguintes termos:

“Meretíssimo Juiz:

Requeiro a Vossência permissão para andar armado.

Justificativa: sou cidadão americano, quites com o Serviço Militar e o Imposto de Renda e no perfeito gozo da condição eleitoral, perfeitamente dentro dos direito políticos. Nas últimas eleições fui candidato a deputado estudual pelo meu Condado e no final da apuração verifiquei que só obtive um voto (o meu). Senhor Juíz: uma pessoa que reside há 40 anos numa cidade de 50 mil habitantes e que não recebeu um voto eleitoral a não ser o dele, é uma pessoa que tem cinquenta mil inimigos e é justo que um cidadão com 50.000 inimigos deva andar armado”.

Extraído do Correio de Marília de 03 de abril de 1974

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