Homem, o que é e o que pensa (26 de junho de 1974)


“Ninguém sabe o que se esconde nos corações humanos”.

Refrão que encerra a filosofia afirmativa, de que póde ser insondável, ou póde estar oculta, dentro de uma criatura humana, uma segunda personalidade ou um imperceptível segundo
Ego.

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Disso, advém, mutuações de atitudes inesperadas por parte de muitos. São os casos de uma criatura aparentemente bondosa, que em determinada circunstância, revela-se má.

Ou de uma pessoa tida e havida como ruim, que de um para outro momento, procede um rasgo louvável de bondade, de piedade, ou de altruismo.

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São esses casos que costumam gerar entre as gentes, quando conhecem fatos humanos inesperados aquela exclamação normal de “eu nunca esperaria isso”, “jamais pude acreditar”, etc.

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Fatos comprovam, no manuseio de feitos processuais, de que muitas vezes, um crime praticado com os mais positivos requintes de selvageria, apresentam lá no fundo de sua oriundidade, alguma razão justificadora, mesmo embora, perante as leis, não representem motivos para evitar a pena.

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Suscetível ou abspinhável, pode ser qualquer pessoa e essas qualidades, podem um dia vir à tona, de maneira surpreendente. Ou até chocante.

São as circunstâncias que movem os homens, não modificando pensamentos, mas fazendo com que algo que encontrava oculto, passe a revelar-se quando ninguém isso espera.

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Dentro de cada homem dormitam dois outros hipotéticos seres: um animal e um anjo.

Dia mais, dia menos, um dos dois acaba despertando.

Acordando o ser anjo, dá-se o ensejo de ver-se a bondade em quem era tido como gente ruim. Ocorrendo o contrário, acontece a surpresa de ver “transformar-se” em mau, aquele que era considerado, tido e havido como bom.

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Pode dizer-se, no caso dessas comparações, que tudo poderá ser debitado, aquilo que os psicólogos convencionaram chamar de “fraquezas humanas”.

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Ocorreram-me essas considerações ao tomar conhecimento de um episódio curioso, revelado há pouco, em programa radiofônico da BBC de Londres.

Um cidadão de 78 anos, que vivia sozinho na capital britânica, resolveu retirar de seu testamento, como beneficiários, os vizinhos não o terem convidado para a ceia de Natal, no último ano, quando ele próprio pensava que isto iria acontecer.

O provecto inglês não gostou de receber, por cima do muro, um naco de perú com farofa, que os vizinhos lhe ofereceram, movidos pelo chamado “espírito de solidariedade, fraternidade e jovialidade natalina”.

Ficou irritado e atirou o prato, perú e farofa, na lata do lixo.

E apanhando a caneta, foi procurar o testamento, que, como velhinho previdente, havia feito e guardado em gaveta trancada à chave.

Os vizinhos não sabiam, mas ele riscou seus nomes da lista de beneficiários. Eles iriam receber, como herança do velhinho, a soma de 16.000 libras esterlinas – uns 250.000 cruzeiros mais ou menos.

Extraído do Correio de Marília de 26 de junho de 1974

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