Língua de Trapo (29 de junho de 1974)


Certo amigo presenteou-me, não há muito, com um livro velho. O autor, Berilo Neves. Publicação da Livraria Civilização Brasileira S. A., edição de 1934.

O título do livro é “Língua de Trapo”, uma exuberância de aforismo e paradoxos, focalizando as filhas de Eva.

Minhas leitoras que desculpem, mas vou transcrever alguns parágrafos de “Língua de Trapo”.

Vejamos:

“A mulher não é criatura de Deus. Deus só fêz a mulher por insistência de Adão, que achava monótono o paraíso. Logo, Deus não tinha a intenção de criar a mulher. Logo, Deus é mesmo oniciente. O homem é que é tolo”.

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“Óra, como a mulher foi feita sob encomenda, para o homem, achou Deus que não deveria fabricá-la com o mesmo material com que fizera Adão. Fê-la de uma costela, o que quer dizer, de um osso… Por isso é que não vale a pena discutir com as mulheres”.

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“A mulher foi feita (são os livros sagrados que o dizem) durante o sono de Adão. Desde ai, os homens ficaram com medo de dormir. Cronologicamente, a mulher foi o primeiro pesadelo que o homem teve, na Terra. E nunca mais deixou de ter pesadelos…”

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“Construída a primeira choupana que houve no mundo, Adão saia todas as manhãs, muito cedo, para seu trabalho e deixava Eva sozinha em casa. Eva, depois de procurar, inutilmente, por todos os cantos, o telefone, acaba bocejando com um ruído tão grande, que despertava as baratas na cozinha. Então ia para a janela e punha-se a falar consigo mesma. A primeira mulher foi também a primeira vitrola de que há notícia.

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“A beleza é um arranjo plástico, próprio para impressionar os tolos e os feios. De todos os animais o único que para na rua para ver passar uma mulher bonita, é o homem. Não há nenhum gato, que interrompa o seu passeio, para dizer graçolas às gatas sensacionais que há neste mundo. Se a humanidade masculina não fosse tão imbecil, a indústria da beleza já teria falido”.

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“O macaco é o único dos nossos parentes que tem juízo. É o único que nunca se casa”.

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“Adão não era escritor. Consta, entretanto, que deixou gravados, no tronco de uma árvore paradisíaca, pensamentos profundos, sobre a “delícia de não ter sogra”.

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“Adão não teve o prazer de ficar viúvo. Morreu primeiro do que Eva (pudera! Eva não fazia nada!). A viúva montou uma pensão para macados estudantes pobres. Essa pensão transformou-se, aos poucos, numa espécie de Arca de Noé em seco. E os escândalos que dela surgiram foram os que fizeram nascer, na Terra, uma instituição nova: a polícia”.

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“Eva não pôs luto pelo seu marido. Casou-se um ano depois cm um macaco novo, estudante de direito. O pai desse macaco, sujeito de juízo, nunca perdoou ao filho tal asneira. Por isso é que ainda hoje se diz: “macaco velho não mete a mão em combuca”. A combuca era Eva”.

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“O morango, como as mulheres muito bonitas, só serve ara ser visto à distância. O morango pode transmitir a febre tífica e a mulher, a única desgraça que não transmite é exatamente a febre tífica”.

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“No primeiro mês do casamento, o beijo é um prazer. No segundo, um hábito. No terceiro, um suplicio”.

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“A mulher casada tem três armas prediletas: o beijo, o sorriso e o ataque de nervos. O homem casado só tem duas: a água de melissa e o cabo de vassoura”.

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“Há três coisas que nos devem, sempre, deixar desconfiados: um sol frio, um gato sem sono e uma mulher calada”.

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“Há homens que “perdem a cabeça” por causa das mulheres. As damas levam mais esta vantagem sobre os homens: não têm cabeça nenhuma para perder”.

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“A mulher é um ser eminentemente prático. Não crê em ficções: aceita realidades. Entre um poeta que lhe diz versos e um brutamontes que lhe dá murros, não hesita: prefere o brutamontes”.

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“Para provar que as mulheres nunca serão sábias, basta ver como elas sabem dizer bobagens de uma maneira encantadora”.

Extraído do Correio de Marília de 29 de junho de 1974

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