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Mostrando postagens de outubro, 2013

O resto do feijão-com-arroz (31 de outubro de 1974)

Em termos de alimentação: resto de comida é uma coisa e sobra de comida é outra. Sobra é o que deixou de ser consumido durante um período de refeição e é guardado para oportunidade outra. Subentende-se por resto as sobras geralmente deixadas no prato. Isso, no entanto, não vem ao caso, embora essa tentativa de esclarecimentos de comparação venha a servir como preâmbulo para o conteúdo deste artiguete. --:-- Este caso é verídico e aconteceu há alguns anos. Alguns amigos marcaram uma pescaria, que seria (e foi) realizada no córrego Kaingang, no município de Oriente. Do plano dessa pesca fazia parte o “passar a noite”. Não recordo-me bem de todos os pescadores. Mas fazia parte do grupo o Coércio Viajante, o Nicola Despachante e um mecânico de automóveis, conhecido por Angelim. --:-- Como sóe acontecer, cada “tarimbeiro” arrumou convenientemente seus apetrechos de pesca, iscas, lanternas, etc… E, logicamente, o lanche, além de agasalhos para o frio no

Maus exemplos (30 de outubro de 1974)

A desunião patente, que não consegue disfarce – mesmo porque sol não se tapa com peneira – e que tem habitação comum, nas hostes da Arena mariliense, traduz-se num vínculo extravagante, que vem colidir com a necessidade indesviável da coesão necessária e imprescindível do Partido majoritário em Marília. --:-- Muitos de seus membros, dançando em ritmos diferentes, quando o som da orquestra e um só é mutável. --:-- Convenha-se de que se não pode cercear ou impedir, nem mesmo arrestar ou bitolar o pensamento ou a vontade de quem-quer-que-seja. Mercê de Deus, essa liberdade de agir e entender é a todos assegurada pela própria Constituição. --:-- Mas a coerência e a fidelidade partidária devem ser bandeiras de união, obrigatoriamente imperantes no seio de um grupo e inerentes dentro de toda a associação. No caso é uma associação, a diretoria de um partido político, porque associa homens com obrigações idênticas e atitudes de reciprocidade. Por esta razão, estr

Outro livro de um magistrado (29 de outubro de 1974)

O doutor Paulo Lucio Nogueira, que é mariliense autêntico, aqui tendo expressivos vínculos de família e de amizades, exerce atualmente as funções de Juiz de Direito da 1ª. Vara da Comarca de Tupã. --:-- O Dr. Paulo Lucio é um homem que venceu na vida, exclusivamente à custa de seu próprio esforço e de idealismo mesclado de um espírito de energia, verdadeiramente admirável. Nascido no interior de Minas Gerais, filha de família pobre e de grande prole, foi o único dos irmãos que conseguiu haurir as luzes da ciência. Jovem, deixando o sertão das alterosas e rumando para São Paulo, experimentou toda a sorte de percalços e privações para subsistir. --:-- Na Capital paulista, exercendo atividades de diversos empregos, inclusive humildes, dedicou-se aos estudos, tendo, com sacrifícios inúmeros, vencido o ginásio e o científico. Prestando concurso, foi nomeado escriturário da Caixa Econômica Estadual, ocasião em que ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

Tinha eu uns doze anos mais ou menos e o que mais aspirava na vida era possuir uma bicicleta. Residia no sítio e sempre que ia à cidade gastava parte do dinheiro que levava pedalando bicicleta de aluguel. Aspirava fazer economias para um dia adquirir uma “magrela”, por mais usada e velha que fosse. --:-- Nunca consegui esse ideal, pois só vim a comprar uma bicicleta aqui em Marília, já adulto e pai de filhos. Foi quando comprei uma “magrela” usada do Dr. Luiz Scaglio, pelo preço de quinhentos cruzeiros (velhos), que foi paga em cinco meses, à razão de 100 cruzeiros por mês (menos de dez centavos de hoje), cuja dívida amortizei com a prestação de serviços contábeis. --:-- Tive uma única oportunidade de comprar uma bicicleta, mas meu velho pai “ligou o ventilador na minha farofa”, tendo impedido-me de comprar aquilo que representava para mim um anelo, um ideal, uma alegria inigualável. --:-- “Seo” Leopoldo era um preto velho, solteiro e sem família. Era col

Ossos do ofício, ainda (25 de outubro de 1974)

Comentei em artigo anterior (24/10/1974) , motivos relacionados com aquilo que se convencionou chamar de “ossos do ofício”: as adversidades e o inesperado, que se chocam com a execução de atividades profissionais, constituindo o mesmo que um ônus inevitável da própria profissão. --:-- Por certo, não poderia constituir exceção à regra a função jornalística, que, além dos “ossos”, tem também seus “espinhos”. --:-- Para quem se dispõe manter uma coluna diária em jornal e quando essa coluna ultrapassou o tempo de vida do paralelo de “bodas de prata”, como é o caso de “De Antena e Binóculo”, muitos  “ossos” foram já “roídos” e “triturados” nesse longo espaço-tempo. --:-- O jornalista, tal como o ator, trabalhando em função de um grande público, não poderia, por certo, agradar indistinta e incondicionalmente a assirios e caldeus. Se critiva, ouve cânticos dos céus por parte dos que harmonizam análogos pensamentos. Mas, em compensação, sente cantilenas do inferno, p

Ossos do ofício (24 de outubro de 1974)

Todas as profissões têm seus espinhos, esse estado de coisas que se convencionou chamar de “ossos do ofício”. Os “ossos do ofício” representam-se pelas adversidades, pelo inesperado, pelas consequências contrárias, por resultados negativos e “dores de cabeça” advindas do exercício de uma profissão, qualquer que seja ela. --:-- É uma espécie de ônus, que o exercício de um cargo acarreta e, se assim não fôra, a execução de toda e qualquer atividade constituiria então um “mar de rosas”, uma “moleza”. --:-- Contou-me um amigo, cirurgião-dentista, que, após receber seu diploma, “mandou-me” para uma cidadezinha do interior do Paraná, onde abriu consultório. O pai havia-lhe custeado todo o equipamento, que adquiriu em São Paulo. Tudo moderno, completo, de último tipo. O trabalho da montagem e instalação do consultório demandou dois dias e no terceiro, quando tudo estava em ordem, o novo “tiradentes” dirigiu-se logo cedinho para iniciar-se nas atividades profissionai

Paulo Egydio e a imprensa interiorana (23 de outubro de 1974)

“Não fiz este convite para parecer simpático ou porque estamos às vésperas de um pleito e sim porque a participação do interior da vida do Estado me interessa muito”. --:-- As palavras acima foram proferidas pelo Governador eleito Paulo Egydio Martins, no último dia 16 (de outubro de 1974) , ao receber em audiência coletiva os jornalistas do interior. --:-- Mais de 60 jornalistas interioranos estiveram presentes à reunião, convocada pela Associação Paulista de Imprensa, a cujo conclave este jornal deveria fazer-se presente e que, na última hora e por motivos óbvios, não pode fazê-lo. --:-- Os jornalistas estiveram reunidos no anfiteatro da API, em sessão presidida pelo sr. Paulo Zing, presidente da referida entidade. Foram apresentadas diversas teses e moções, que após apreciações foram convenientemente dissecadas, para em resumo objetivo, constarem, de um memorial que foi entregue ao futuro Governador do Estado. --:-- A medida de reunião prévia e

Expedientes políticos (22 de outubro de 1974)

Em 1948, determinado deputado paulista fez-me presente de um cartão impresso, constando meu nome e função profissional. O referido documento dava-me o direito de “ingresso livre” no recinto da Assembleia Legislativa do Estado. --:-- Certa feita, indo à Capital e dispondo de tempo, pretendi conhecer o Palácio 9 de Julho e presenciar uma sessão ordinária da Assembleia Legislativa. Lembrei-me do “ingresso livre” e isso mais animou-me a conhecer o parlamento. Na entrada, exibi o cartão ao guarda civil que estava na porta e o policial nem siquer deu-se ao trabalho de examinar ou pelo menos atentar para o nome do portador. Mandou-me simplesmente adentrar. --:-- Já instalado nas galerias do plenário, estabeleci palestra com um cidadão e comentei o fato do documento. Disse-me o homem: - Isso não vale nada, é uma demagogia muito barata. Esta é a parte destinada ao público e aqui toda pessoa entra e sai livremente, sem necessidade desse cartão. Mesmo que você neces

Assuntozinhos oportunos (19 de outubro de 1974)

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro vem de requisitar as gravações de todos os programas de rádio e televisão dos quais participaram candidatos a cargos eletivos fora dos horários gratuitos permitidos pela Justiça Eleitoral. Segundo a informação, o TRE irá proceder o exame das fitas gravadas e poderá determinar a cassação dos registros de todos os candidatos que porventura tenham violado as instruções do Tribunal Superior, fazendo programas de interesse de suas candidaturas políticas. A decisão origina-se de uma denúncia formulada pelo procurador regional eleitoral, Dr. Carlos Rollemberg, que, mesmo sem ter citado nomes dos possíveis infratores, solicita ao TRE uma fiscalização bastante rigorosa da lei. --:-- Já disse alguém que a televisão torna pessoas mal educadas. O exemplo citado: quando uma pessoa visita outra e o aparelho de televisão está ligado, geralmente prende a atenção e desvia as vistas. Se é o dono da casa que se interessa pela tevê, es

Hoje, Dia do Médico (18 de outubro de 1974)

Decorria o ano de 1936, quando concluía eu o terceiro ano do curso primário, numa escola mista da zona rural. Para “fazer” o quarto ano e “tirar diploma”, seria necessário ingressar num grupo escolar, pois escolas rurais não ministravam o último ano primário e também não possuíam grupos escolares. Estes só existiam em cidades. --:-- Oito quilômetros de distância separavam o sitiozinho de meu pai da cidade de Cafelândia. Isto significa que para cursar o último ano em grupo escolar teria que caminhar, diariamente, um percurso de 16 quilômetros, entre ida e volta. E foi o que fiz durante o ano letivo de 1936. --:-- Dentre os amigos que fiz na classe, nutria eu “inveja” por dois deles: o Ivã, que era filho de um médico, o Dr. Gilberto, e o Ary, que era afilhado de outro médico, o Dr. Moss. Ambos eram os mais bem vestidos e alimentados da classe, possuíam relógios de pulso, sapatos dos melhores e levavam sempre os melhores lanches escolares. Eu não levava lanche n

Exame “para passar” (17 de outubro de 1974)

Certa feita, necessitando utilizar material redacional, deparei com determinada frase em francês e, tendo dúvidas acerca do significado exato de determinada palavra, recorri a um estudante do então curso científico. O moço ouvira a palavra e confessava-me ignorar a sua definição. O que estranhei foi a sua justificativa, de que não gostava da língua francesa e que estudava com o único objetivo de obter média suficiente somente “para passar de ano”. --:-- Achei errado, mas nada ponderei. Errado, porque, estudando-se, armazena-se conhecimento, conhecimentos que não só identificam o homem culto e preparado, como, igualmente podem ser úteis em porvir ou ocasiões especiais a esse mesmo homem. --:-- Dizia-me, determinada época, um acadêmico de direito que estudava fora de Marília, que no curriculo escolar daquele ano desagradava-lhe estudar a matéria “medicina legal” e que esforçava-se somente para conseguir “passar de ano”, nada mais. --:-- Ao então acadêmico d

Conversa de jornalistas (16 de outubro de 1974)

Dia outro, na Capital, palestrei casualmente com um jornalista paulistano, integrante do setor de reportagem geral de um grande diário de São Paulo. Moço muito culto, detentor de um excelente diálogo, possuidor e um acurado dom de comunicatividade, contava-me haver se formado em jornalismo há quatro anos. --:-- No decurso da conversa, estabeleceu-se um paralelo entre os dois tipos de imprensa – do interior e da Capital. Ignorava ele, até então, diversos aspectos da imprensa cabocla, pobre, sacrificada e heróica da hinterlândia, em relação aos grandes jornais das Capitais e grandes cidades. --:-- Ficou admirado de muitos fatos que lhe narrei, acerca das atividades do profissional interiorano, onde o escriba do interior exerce uma espécie de “clínica geral” e onde os setores de especialização são poucos e dificeis – o que não acontece nas Capitais. --:-- Num grande jornal, para tudo existe especialização. --:-- No interior, tal não ocorre. No interi

Votemos pró Marília (15 de outubro de 1974)

Faltam dois meses e meio para o término deste ano da graça de mil novecentos e setenta e quatro. O relógio não para, os dias caminham apressadamente, devorando semanas e engolindo meses seguidos. O tempo, inexorável e místico, acobertando a incerteza do porvir, vai andando sempre, deixando para traz os fatos, os exemplos bons e maus das criaturas humanas. --:-- Falta exatamente um mês para que o eleitorado compareça às urnas, a fim de, no exercício do voto livre e independente, eleger os deputados estaduais e federais e decidir também quanto a uma vaga no Senado Federal. --:-- É chegado o momento que está a exigir um exame de consciência. É chegado o momento do leitor fazer valer seu direito, votando livremente, sem influenciar-se ou deixar-se influenciar por pedidos de amigos, por promessas de empregos ou vantagens. --:-- É urgida a necessidade de pensar-se em Marília, em termos de Marília, em amor sincero pela cidade que nos dá condições de vida, que no

Quatro assuntos e um escrito (12 de outubro de 1974)

Convênio vem de ser firmado entre a Prefeitura Municipal e a diretoria do Albergue Noturno de Bauru, destinado a combater a mendicância na “cidade sem limites”. Os dois órgãos contarão também com o apoio das entidades de classe e clubes de serviço bauruenses, numa ação conjunta de extinção da mendicância nas ruas daquela cidade. Segundo as notícias a respeito, os mendigos serão retirados das vias públicas pela Polícia, que operará um serviço de triagem, encaminhando os necessitados ao Albergue Noturno. Este, por sua vez, analisará as medidas de necessidade assistencial e sanitária, através dos trabalhos de uma assistente social, para o encaminhamento aos setores competentes. Os que apresentarem casos irrecuperáveis serão encaminhados a entidades de amparo e os itinerantes terão resolvidos os problemas que os levaram até Bauru, sendo recambiados para suas cidades de origem. --:-- Falando em pedintes, estão aparecendo “caras novas” na cidade, fazendo aumentar o já gran

E o Mini-Ceasa? (11 de outubro de 1974)

Quando da inauguração oficial do Centro Estadual de Abastecimento S.A. – CEASA de São Paulo, estive participando do acontecimento como enviado especial deste jornal. Observei, anotei e escrevi posteriormente, não muito a solenidade em si, os discursos, a presença de autoridades estaduais, o banquete, mas muito mais a grandeza da obra e as finalidades de seu funcionamento e fins precípuos. --:-- Naquela ocasião – e faz isso regular tempo! – rabisquei alguns comentários abordando o assunto e “sonhando” para um porvir distante, o erguimento de núcleos outros análogos, em pontos diversos do interior do Estado. Esse “sonho” fôra externado por conta própria, eis que ninguém propalara nada a respeito e parece que ninguém na oportunidade chegara a pensar em semelhante aspiração. --:-- Tempo passando inexorável, místico, misterioso e insoldável. Anos mais tarde, uma realidade de intenções administrativas do próprio Governo do Estado, vem colidir exatamente com aqu

Da poesia ao poema (10 de outubro de 1974)

Recordo-me muito bem. Foi no ano de 1939, portanto há 35 anos passados, que consegui publicar meus primeiros rabiscos em jornais. Era estudante, trabalhava em escritório e o que percebia, como fruto do trabalho, tornava-se insuficiente para viver. Porisso, exercia nas horas vagas e após o período das aulas noturnas, o “bico” de garçon. --:-- Sentia, mesmo criança, muito fascínio pela imprensa. Gostava de ler o jornal bi-semanário da cidade, com muita atração e avidez. Sentia muita admiração por um caboclinho, chamado Eloy, que era o redator do aludido hebdomadário. Sentia, igualmente, desejos de escrever e ver meus escritos publicados no jornal “O Progresso”, que existia naquele tempo, na vizinha cidade de Lins. --:-- Um dia criei coragem e fui procurar o jornalista. Pedi-lhe que me desse uma oportunidade, que aceitasse minha colaboração, pois gostaria de ver algo de minha lavra, ser publicado num jornal. “Seo” Eloy mediu-me dos pés a cabeça e sentí q

Uma voz que se cala… (09 de outubro de 1974)

Para quem como eu e tantos outros, que se habituou a ver em jornal algo arraigado dentro do próprio amago, é pesaroso noticiar e comentar o desaparecimento de um jornal – especialmente se for o caso de um dos muitos sacrificados e heroicos jornais interioranos. --:-- O encerramento de atividades de um jornal é o mesmo que uma voz que se cala, o mesmo que uma vida que se extingue, um organismo latente que expira. Um poro por onde respira a democracia. --:-- Depois de circular por um espaço-tempo que não chegou a atingir dois anos de duração, deixou de circular no último sábado o vespertino bauruense “Diário da Tarde”. Dirigido pelo jornalista José Ricardo Aquilino, o referido vespertino tinha sua redação e oficinas na Rua Alfredo Ruiz, na “cidade sem limites”. --:-- O encerramento das atividades do “Diário da Tarde” quiçá não seja o último a lamentar. A manutenção de um jornal depende de uma série de fatores, despontando como um dos mais predominantes o pr

Dois assuntos dos outros (08 de outubro de 1974)

Dia outro determinado leitor pediu-me que gostaria de voltar a ler certa “estatística” sobre o quanto se trabalha no Brasil. Referia-se ele a uma espécie de glosa, cujo autor não sei quem é, mas que em passado divulguei através desta coluna. De fato, o conteúdo foi muito bem feito, pela oportunidade imaginativa de seu autor. Respondi ao amigo que seria impossível a repetição pelo fato de eu não saber a data da publicação, o que tornaria muito difícil vasculhar as coleções do jornal para descobrir a referida inserção. --:-- Um dia destes um outro amigo ofereceu-me um recorte de um jornalzinho editado por determinado clube social, contendo exatamente o assunto que me fôra anteriormente solicitado. Coincidência natural e inesperada, que oferece-me o ensejo, agora, para atender o pedido anterior e acima referido. Vejamos, portanto, essa curiosa “estatística”. --:-- Dá conta de que dois amigos encontraram-se tendo um deles indagado para onde se dirigia o o