Café e cacau (14 de dezembro de 1974)


Divulgou ontem (13/12/1974) este jornal, em primeira página, consubstancioso material informativo, condensando assunto importante, diretamente ligado à cultura cafeeira da região de Marília.

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A referida matéria, de autoria de nosso companheiro Luiz Carlos Lopes, fundamentou-se em entrevista obtida junto ao Sr. Brasílio de Freitas Cayres, presidente da Cooperativa dos Cafeicultores de Marília.

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O citado artigo, em termos de informação, encaixa a existência de uma situação anomala, que traz, por outro lado, a perspectiva e a sombra de um autêntico caos econômico: a erradicação das lavouras de café.

Na balança da exportação nacional, o café ainda continua a representar um peso-ouro, mesmo considerando-se que, nestas últimas décadas, tenha sentido, em maior volume, o confronto de uma concorrência que até então não fazia qualquer sombra e nem ocasionava qualquer intranquilidade ao nosso mercado exportador.

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A política economica a respeito parece sempre ter-se descurado de um amparo mais equanime e objetivo nesse campo, a ponto de ter gerado um desestímulo contristador, que veio tornar-se móvel do desinteresse pela cafeicultura.

A tal ponto chegou o referido estado de coisas que grandes areas cafeeiras já se transformaram em regiões de pastagens, destinadas a rebanhos pecuários.

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Na política exportadora tem-se notado que os cafeicultores sempre mantiveram flagrante desagrado com os dispositivos legais, face à fixação do cambio, em bases do padrão dólar, com valorizações específicas.

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A existência do confisco cambial, no entender dos produtores de café, transformou-se em outro expectro temível e desanimador.

A essas circunstâncias irremovíveis, vieram juntar-se as pragas advindas da “broca” e do “ferrugem”, o custo da manutenção, os preços de adubos e germicidas e o risco das geadas.

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Na opinião do presidente da citada cooperativa, a situação chegou a tal ponto que sua sustentação chega a ser temerária e eivada de riscos e incertezas. Parecendo esgotadas as esperanças de “melhores dias” para a produção cafeeira, cogita-se no agarramento de uma forma suasória, representada pela erradicação dos cafeeiros da região, para a sua substituição pela lavoura cacaueira.

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No que a respeito se preconiza, percebe-se o embrionismo algo receioso. Tanto que o cogitado poderá processar-se a longo prazo.

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O assunto, em si, é mais grave do que possa parecer, pois representa a extinção gradativa da produção rubiácea do Estado  que continua a liderar a produtividade cafeeira, especialmente agora, quando a febre da soja e do trigo domina todo o norte do Estado do Paraná.

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Por outro lado, a produção de cacau vislumbra horizontes confortadores e esperançosos, em termos de exportação. Mesmo porque o cacau brasileiro até agora tem sido insubistituível quanto à sua excelente qualidade.

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Resta saber se em porvir, erradicada a maior porcentagem das lavouras cafeeiras, a política do mercado exportador de cacau venha ou não a seguir as pegadas da política econômica do café.

Isto ocorrendo, terão sido inúteis os meios de erradicação de cafeeiros e os produtores de café que transferirem o sistema de plantio pelo cacau acabarão ficando como se encontram.

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O assunto focalizado no artigo inserto ontem no “Correio” é de suma importância econômica e deve merecer interesse e atenções das autoridades do país.

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A guisa informativa: existe cacau plantado e produzindo em Marília antes das experiências feitas em Garça. Não lavouras, mas cacau “à la quintal”.

Quem quiser conhecer o “cacau mariliense”, procure falar com o Chiquito do Daem, que, como bom baiano, tem cacau plantado e produzindo. E que até já doou mudas para alguns fazendeiros de nosso município.


Extraído do Correio de Marília de 14 de dezembro de 1974

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