De luto a OAB (10 de dezembro de 1974)
Está de luto a Ordem dos
Advogados do Brasil.
Está de luto a sub-secção de
Marília dessa mesma Ordem.
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Faleceu a doutora Lucy de
Carvalho, advogada por idealismo e vocação, defensora gratuita dos pobres e
oprimidos.
Fui apresentado à doutora
Lucy de Carvalho em fins de 1945. Meu introdutor fora o professor Basileu Assis
Moraes, que era diretor da Biblioteca Municipal de Marília.
O prefeito era o sr. João
Neves Camargo.
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A diretoria do Ginásio
Municipal – local onde hoje funciona o Ginásio Industrial “Antonio Devisate” –
promoverá uma sessão solene para recepcionar os “pracinhas” da FEB, que
regressaram dos campos de luta da Itália.
Uma sessão de gratidão e de
civismo, onde além do prefeito, vários professores se fizeram ouvir,
enaltecendo os feitos dos soldados da Fôrça Expedicionária.
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Duas pessoas
impressionaram-me sobremaneira, naquela oportunidade.
Uma, o falecido advogado e
poeta Dr. Zoroastro Gouveia, que proferiu um discurso inflamado de patriotismo,
numa demonstração inequivoca um inimitável poder datilóquio, esbanjando uma
retórica impressionante, dominando todo o plenário e comovendo em especial os
“pracinhas” e seus familiares presentes.
Outra fôra a Dra. Lucy, que
palestrou demoradamente comigo, impressionando-me pela sua cultura, maneira
fácil e dócil de falar, demonstrando um extraordinário poder comunicativo.
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Daquela data em diante,
passei a admirar a Dra. Lucy, ufanando-me mesmo de ouví-la dizer-me várias
vezes ser fã e admiradora de meus modestos escritos.
Muitas vezes discordando de
meus pontos de vista, expressava seus entenderes, de maneira cortês e elegante,
como sóe acontecer com as pessoas cultas e respeitosas.
Sempre gostava e tinha por
hábito falar comigo a respeito de minhas crônicas ou reportagens. E não ficava
apenas nisso. Quando tinha uma ideia, que julgava oportuna de ser divulgada
através da imprensa, procurava-me pessoalmente aqui na redação, para sugerir
aquilo que acreditava ser oportuno e de interesse geral. Muitos foram os
subsídios me fornecidos pela Dra. Lucy e transformados em assuntos para diversas
publicações através desta mesma coluna.
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É um “status” natural dos
homens querer bem quem demonstra querer bem.
Por isso eu nutria respeito e
admiração pela amizade incondicional que a extinta fazia quest ão de tributar-me e esforçava-me por retribuir,
num mesmo nível, essa deferência antiga e espontânea.
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A Dra. Lucy, juntamente com a
professora Lyriss da Rocha, bem como outras jovens da ocasião, fôra a
idealizadora e co-fundadora da Gota de Leite de Marília, uma instituição
maternal que hoje é um padrão no campo assistencial da maternidade de nossa
cidade.
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Por duas legislaturas fôra
presidente da sub-secção da Ordem dos Advogados do Brasil em Marília. Fez parte
da diretoria do Hospital Espírita e colaborou intensamente com o núcleo local
da Legião Brasileira de Assistência.
Tinha sempre a preocupação
com o problema dos menores, a ponto de agir por iniciativa própria, em muitos
casos de seu estabelecimento.
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A Dra. Lucy prestou serviços
inestimáveis e valiosos aos pobres de Marília, em termos profissionais, havendo
casos em que a advogada, além de nada cobrar pelos seus serviços de advocacia
aos pobres e oprimidos, ainda pagava de seus próprios bolsos as custas e
emolumentos devidos à Justiça.
Sempre fôra excelente intermediária
em questões de separações e desquites e muitos casos a dra. Lucy conseguiu
solucionar pacificamente, reconquistando a harmonia de casais.
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A Lucy não era uma pessoa
excessivamente humilde, nem excessivamente arrogante. Em alguns casos, mostrava-se
até “durona” e irredutível.
Mas uma qualidade ela sempre
teve e sempre demonstrou possuir: o espírito de justiça.
Mais do que justa, sempre
fôra leal e sensivelmente humana, chegando a sofrer até com casos de terceiros
que a procuravam como advogada.
Benemerente, a Dra. Lucy
exercia a caridade como manda o Evangelho – a mão esquerda ignorando o que faz
a mão direita.
Está de luto a Ordem dos
Advogados do Brasil.
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