Horóscopos, profecias e previsões (12 de dezembro de 1974)


Pelo jeito, no Brasil, em termos de divulgação dos chamados horóscopos, ninguém deve faturar mais violentamente do que o ex-mariliense Omar Cardoso.

Omar fatura horrores com seus horóscopos diários, que a maioria da imprensa, especialmente a interiorana, divulga diariamente.

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O horóscopo divulgado pelo “Correio” não é da autoria de Omar e sim de origem grega, editado pela “Datura Verlagsanstalt, Triesenberg” – mais que isso não vem ao caso.

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Nota-se que “ninguém acredita”, conforme se afirma, mas a maioria das gentes prende-se aos horóscopos que os jornais divulgam.

Temos casos de reclamações de assinantes do jornal todas as ocasiões em que o horóscopo deixa de ser publicado por óbvia razão.

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O presente intróito serve de “couvert” para o seguinte relato verídico:

Tinha eu pouco mais de 17 anos quando, abandonando a lavoura, mandei-me para a cidade, a-fim de tentar um preparatório para ingresso no curso propedêutico – especie de ginásio comercial de hoje (1974).

Caboclinho, arredio, sem amigos, sem parentes, vivendo emoções diferentes, sentia-me importante numa cidade pequena, que se me parecia cidade grande. Simples e demasiadamente humilde, arranjei meu primeiro emprego num bar, provando a minha primeira desilusão, pois, apesar de trabalhar três meses seguidos, não cheguei a receber um níquel como ordenado – a ponto de ter sido despejado do hotel contratado, tendo ficado presa minha mala e minhas poucas roupas.

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É que, poucos dias após meu ingresso, o Durval, dono do estabelecimento, desapareceu inexplicavelmente e um cidadão que se dizia parente, vinha diariamente ao bar, levando o dinheiro da féria. Sem novas compras, o estoque foi findando, a ponto de nada mais vender. O tempo foi decorrendo e eu desesperando-me, a ponto de, após três meses, abandonar o estabelecimento e entregar a chave ao cara que vinha buscar a “gaita” todas as noites.

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Meu segundo emprego foi o de faxineiro em um hotel de segunda categoria e eu sentia-me feliz com isso, porque tinha um quartinho no quintal para dormir e um prato “sortido” a cada refeição diária.

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Apareceu na cidade um “professor”, dando “consultas” sobre o futuro, gratuitamente, através do jornal bi-semanário e da emissora local.

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Crédulo, candidatei-me a uma consulta, remetendo os dados solicitados no recorte do jornal.

Veio a resposta, dias após.

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Mesmo crédulo, escarneci do conteúdo da informação.

Dentre outras coisas, dizia o profeta, mais ou menos isto:

“Você pertence ao decanato tal, do signo tal, conta com a força de tal e tal astro e porisso é muito temperamental, muito franco, a ponto de prejudicar-se pelo excesso de franqueza. Terá muitas dificuldades na vida. Conhecerá grande parte do Brasil, cruzará mares e conhecerá terras estranhas. Em terras estranhas passará por momentos em que sua vida não valerá um tostão, mas você sairá ileso. Terá muitos filhos. No futuro terá destaque com livros, revistas ou jornais”.

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Passou-se o tempo e muitos anos após percebi que, por coincidência, a profecia se realizou.

Conheço hoje (1974) vinte e dois Estados do Brasil e vários paises do mundo. Cruzei mares por mais de uma vez. Orgulho-me de ser franco e tenho sentido que muitas vezes esse espírito de franqueza tem gerado-me complicações. Passei por maus bocados em terras estranhas, a ponto de minha vida “não valer um tostão”, por ocasião de combates travados na II Guerra Mundial, na Itália. Tenho, de fato, muitos filhos. Sobre destaque em livros, revistas ou jornais, é que parece existir a falha, pois nunca consegui passar de um modesto redator provinciano de jornal do interior.

Extraído do Correio de Marília de 12 de dezembro de 1974

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