Não há razão para neurose (11 de dezembro de 1974)
Não há muito tempo, Flávio
Cavalcanti, num dos programas de televisão que costumava apresentar, fez uma
“cera” danada e criou um estado de suspense entre os telespectadores.
No final, veio a “bomba”, que
não ficou nada além em efeitos do que um simples e inofensivo traquezinho
junino.
Disse Flávio (cadê ele?), que
um grupo de cientistas chegou à conclusão de que a doença do ano de 1980 será a
neurose.
Parece não ser necessário saber
como um cientista para prever tudo o que está diante dos olhos de toda gente.
O mundo está fracionado por
homens e ideias, por uma juventude que protesta sem dialogar, os meios de
comunicação massificando todo mundo, ausência de uma compreensão geral e
desmedimento nos horizontes da ganância, o materialismo capeando toda gente, o
lufa-lufa cotidiano e as correrias de todas as horas pelo ganha-pão diário,
tudo isso virá mesmo a fazer das gentes, usinas geradoras de neurose.
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A conclusão dessa “bomba” do
Flávio Cavalcanti é tão banal que não chega siquer a equiparar-se com o
problema do cara que casou com uma viúva e acabou convencendo-se ser avô dele
próprio, citado nesta coluna dia destes (07/12/1974).
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Mas, como todos os problemas
têm solução e como todas as circunstâncias tem um lado oposto, como igualmente
todos os acontecimentos apresentam mais de uma versão, aqui está a revelação
inconteste de que não existe nenhum motivo, para que a gente se preocupe com a
doença da neurosa anunciada pelo Flávio Cavalcanti.
A naurose tem como uma das
principais causas o atropelamento de ideias como consequência da luta pela
própria vida.
Isto é uma causa do próprio
trabalho dos homens.
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População do Brasil:
52.436.768
Menos: pessoas com mais de 60
anos: 7.896.425
Restam para trabalhar:
44.540.343
Menos: menores de 18 anos:
23.430.212
Restam para trabalhar:
21.110.131
Menos: funcionários civis e
dependentes: 7.678.671
Restam para trabalhar:
13.431.460
Menos: forças armadas e
dependentes: 3.456.875
Restam para trabalhar:
9.974.585
Menos: funcionários
estaduais, municipais e dependentes: 4.523.575
Restam para trabalhar:
4.341.001
Menos: reformados e
aposentados: 2.354.805
Restam para trabalhar:
1.986.196
Menos: pessoas que vivem de
rendimentos: 895.174
Restam para trabalhar:
1.080.912
Menos: doentes, presos e
inválidos: 934.650
Restam para trabalhar: 45.252
Menos: boas vidas e outros
que não querem trabalhar: 45.249
Restam para trabalhar: 3
Três: O presidente da
República, você e eu.
E você trate de se mexer,
porque o Presidente está viajando e eu estou cansado de “dar duro” sozinho…
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