Nem sempre nobreza é título (31 de dezembro de 1974)


Sem endereço pessoal e com o devido distanciamento da pessoa física do cidadão, inúmeras vezes critiquei atos, atitudes e gestos do vereador Nasib Cury.

Nessas censuras de jornalista e observador político, cingi-me aos procedimentos do cidadão, investido em seus poderes e funções legislativas.

Não só Nasib Cury, como igualmente outros vereadores e políticos.

Fi-lo sempre limitado ao mais comezinho princípio de independência  e como porta-voz de uma parcela da população mariliense.

E o farei quantas vezes isto for necessário.

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Com a mesma independência que tenho tecido críticas, também expendi louvores, todas as vezes que estes sejam conscientemente reclamados e notadamente necessários.

E isto também farei todas as ocasiões que preciso for.

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Vou abordar aqui o desfecho do entrevero há pouco surgido, envolvendo os poderes Executivo e Legislativo, nas pessoas do prefeito Pedro Sola e do vereador Nasib Cury.

O final, embora para alguns tenha multi-efeitos, só apresenta uma consequência e um resultado: harmonia político-administrativa da cidade, com reflexos de bem para a própria coletividade.

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Tenho notado que vozes que procuravam defender Nasib, velada, aberta ou indiretamente, mudaram de trincheira, para arremessar investidas contra o mesmo vereador. De defensores, passaram a agressores, basofiando inclusive sobre pretensa impersonalidade do focalizado.

Nesses casos, a impersonalidade reside justamente nos proprietários dessas próprias vozes. Pela incoerência de atitudes e pelo aproveitamento momentâneo de oportunidades.

São pessoas que fazem “xixi” fora do pinico.

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Nenhum desdouro pode recair sobre Nasib Cury, pelo fato de sua retratação.

O reconhecer um erro e penitenciar-se, dando a mão a palmatória, jamais diminui ou desvaloriza um homem. Pelo contrário, eleva-o e dignifica-o. Prova-o detentor de um espírito público e de razão consciente.

Por outro lado, atesta que nobreza não existe somente em títulos e sim também em ações dignas.

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Vejamos o recente episódio, que redundou no impedimento do ex-presidente norte-americano Richard Nixon.

Os anteriores da própria história “yankee”, que renunciaram o governo norte-americano, souberam penitenciar-se, foram capazes de reconhecer e confessar falhas e erros. Nem por isso tiveram diminuídos seus valores.

O mesmo não aconteceu com Nixon, que não teve a dignidade de penitenciar-se ou de reconhecer as falhas que grande parte do público lhe atribuiu.

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Com a mesma altivez que sempre critiquei Nasib Cury e com a mesma lealdade de propósitos que assim procedi, aqui estou para louvá-lo. Nesse louvor, que é espontâneo e incondicional, como espontâneos e incondicionais foram as críticas que ao mesmo enderecei, está a minha independência absoluta.

Contrário os que entendem que Nasib se acovardou ao mudar de atitude, retratando-se. Para mim, o gesto nunca poderia chamar-se covardia e sim altives. Ele não se diminuiu por isso. Ao contrário, elevou-se, porque é digno e honrado, o reconhecer falhas. Pelo menos para os homens que pensam como eu.

Nasib teve um gesto nobre que veio beneficiar Marília.

Resta que se não metamorfose.

O vereador demonstrou nobreza de ação. E provou que a nobreza nem sempre é título nobiliárquico.

Extraído do Correio de Marília de 31 de dezembro de 1974

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