Um ponto a ponderar (03 de dezembro de 1974)
Matéria vencida, essa dos
resultados reais do pleito de 15 de novembro (de 1974),
em que o MDB faturou alto em todo o país, garantindo a maioria oposicionista
nos parlamentos estaduais e elegendo Orestes Quércia para o Senado da República
pelo nosso Estado.
De cuca fresca, pode-se agora
ponderar algo referente ao fracasso arenista nessas eleições.
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Quércia começou muito cedo
sua campanha política e para o início da largada conseguiu dar um golpe do
joão-sem-braço em mais de oitenta por cento da imprensa interiorana.
Nos vinte por cento inclue-se
este jornal.
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Há mais de um ano, antes do
pleito último, o complexo publicitário montado pelo “staff” de Quércia passou a
utilizar graciosamente a maioria da imprensa do interior.
Da seguinte forma:
Enviando matéria
aparentemente informativa, pondo em evidência a candidatura de Quércia, para
todos os jornais da hinterlandia paulista.
Deu bons resultados, porque
muitos jornais interioranos, com escassez de material noticioso, passou a dar
guarida, publicando a propaganda gratuitamente.
Somos prova disso, dizendo do
volume desse material recebido aqui, que outro destino não teve senão a cesta
de papéis inúteis. Por outro lado, vale esta afirmativa, porque, através do
sistema de permuta de jornais, recebemos hebdomadários de inúmeras cidades
interioranas e vimos nesses jornais sempre estampada a mesma matéria que
inutilizamos.
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Os leitores da imprensa
interiorana passaram, assim, a habituar-se a ler o nome de Orestes Quércia e
quando o “rush” publicitário foi desencadeado, o ex-prefeito de Campinas já
havia se tornado um nome conhecido e de certa forma simpático.
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Enquanto isso, a Arena
cochilava na cozinha da engrenagem política, convicta de que tudo ia correndo
muito bem e que ninguém iria botar defeito no nome honrado do Professor
Carvalho Pinto.
Os arenistas não atinaram que
os têrmos “renovação” e “mudança” apresentavam eivas utópicas, pois as mesmas
setas endereçadas contra Carvalho Pinto, poderiam servir igualmente para Franco
Montoro e Ulisses Guimarães, políticos mais “antigos” em militação do que o
próprio Carvalho Pinto.
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O esquema de propaganda de
Quércia funcionou efetivamente.
Orestes foi a formiga
diligente, enquanto Carvalho Pinto comparou-se à cigarra.
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O comando do diretório
nacional da Arena, embora confiado a um homem competente como é Petrônio
Portela, jamais poderia representar o cerne de um ipê. Todos sabem que Portela,
figurando como estrela de primeira grandeza no céu do partido da situação, fôra
um janguista de escól, que, ao lado de Miguel Arraes, de Pernambuco, se opôs de
corpo e alma ao alijamento de Jango Goulart.
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Esses dois fatores, aliados
ao valor do impressionismo comunicativo que a engrenagem publicitária do MDB
engedrou e fez aplicar, conseguiu gerar no consenso popular, o mesmo que um
sentimento uno, o mesmo que uma psicose, o chamado voto de protesto.
E o resultado ai está.
Agora não aparece o pai da
criança, pelo lado arenista, mas a verdade ;e que o próprio partido foi o único
culpado de perder o pleito de maneira tão fragorosa.
Senão foi isso, então é
forçoso afirmar que houve grande erro ou omissão.
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