Você entende isto? (07 de dezembro de 1974)
Era uma vez, um sujeito.
O “sujeito”, aqui neste caso,
um homem.
Esse homem era solteiro e
órfão de mãe. Se era órfão de mãe e não era órfão de pai, isto quer dizer que
ele tinha pai e não tinha mãe. Se não tinha mãe e era órfão de mãe, é sinal que
a mãe (dele) tinha partido desta para a melhor (ou pior). Quer dizer, tinha
morrido.
Até ai está tudo correto,
certo, sem sombra alguma de alguma dúvida.
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O sujeito começou a namorar
uma viúva, siquer imaginando a enroscada em que iria meter-se. Sem supor que
iria aprontar a si próprio, o maior “rolo” da paróquia.
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Como todo namoro é a fase que
preconiza e anteve a realização do “conjugo vobis”, isto é, do casamento, o
sujeito acabou metendo-se na condição intermediária do noivado. Acabou enfiando
uma argolinha no dedo anular da mão direita, apesar de ser canhoto. Isto é,
ficou noivo.
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Do noivado para o enlace foi
um passo apenas e o sujeito acabou casando com a viúva. Então ele que era
solteiro e órfão de mãe, ficou casado, restando viúvo o próprio pai.
Mas a mulher do sujeito tinha
uma filha solteira e o velho apaixonou-se pela moça, terminando por casar com
ela, deixando de ser viúvo.
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Ai começou o enbananamento: o
pai passou a ser genro do próprio filho e o filho padrasto do próprio pai. Com
isso, a enteada do sujeito passou a ser madrasta dele, uma vez que havia
casado-se com o pai e o pai do sujeito passou a ser genro da mulher desse mesmo
sujeito.
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Um ano depois, a mulher do
sujeito teve um filho, que ficou sendo filho da mãe da mulher do pai do sujeito
e ao mesmo tempo tio do sujeito, uma vez que era irmão da enteada que também
era madrastra do sujeito.
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Algum tempo depois, a mulher
do pai do sujeito, que já era enteada e madrasta dele, teve também um filho.
Esse filho passou a ser irmão e neto do sujeito ao mesmo tempo, uma vez que era
filho da filha da mulher dele e filho também do pai do sujeito.
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Ai o sujeito passou a
complicar-se mais ainda.
A mulher dele passou a ser
também sua própria avó, por ser mãe da mulher do pai dele e o sujeito passou a
ser não somente marido da mulher dele, como igualmente neto da própria mulher.
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Como o marido da avó de uma
pessoa é também avô dessa pessoa, o sujeito acabou sendo avô dele mesmo.
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Acontece que toda a família
sempre fora pobre e só o sujeito era rico.
E um dia ele começou a pensar
nesse rôlo dos diabos em que havia entrado e que se agravara com o pai casando
com a enteada deele e complicado mais ainda, com o nascimento das duas
crianças.
E pensou, pensou, que quando
ocorresse o dia de sua morte, a partilha da herança iria dar um trabalho dos
diabos, porque ele não conseguia descobrir ao certo quantos herdeiros tinha, em
linha descendente.
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Faz muitos anos que já foi
celebrada a missa de sétimo dia do falecimento do sujeito, que morreu
convencido de que era avô dele mesmo…
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